Curta Paranagua 2024

Pebbles

Entre pedras, ratos e câmeras

Por Fabricio Duque

Durante o Festival de Rotterdam 2021

Pebbles

O que é cinema? Forma, estética, história e/ou tudo junto? Com o longa-metragem indiano “Pebbles” (2021), exibido na mostra competitiva do Festival de Roterdã 2021, e vencedor do Tigre de Ouro de Melhor Filme, nós, espectadores, questionamos os propósitos e as essências da sétima arte. A narrativa conduz-se pela simplicidade e pelo minimalismo-intimista, à moda estrutural de uma obra iraniana, como por exemplo, “Filhos do Paraíso” (1987, de Mohammad Amir Naji). Há quem diga que este é apenas um produto fetichista (ultra exposto pelos contemplativos close) sobre a estilização da miséria interiorana da Índia (sem a romantização hollywoodiana de “Quem Quer Ser um Milionário?”, 2008, de Danny Boyle). Talvez seja, mas não tanto.

“Pebbles” pode também ser traduzido como um exercício de linguagem proteiforme, que busca o elemento caseiro como desconstrução da própria criação, amalgamando gatilhos cênicos, ora mais realistas, ora mais sentimentais, ora mais ingênuos, ora mais estéticos. Câmera subjetiva e  contemplativa. Montagem ágil (cortes rápidos e bruscos) e metafísica (a observação da existência pelo detalhe psico-social). Esses tons descontínuos (e incompatíveis imagético contexto final), e de equilíbrios não ritmados, geram um desconforto, quase inocente, do olhar, como por exemplo, uma metalinguagem no meio do nada. Há quem diga também que é um filme-cota afirmativo (de inclusão exploratória-obrigatória), assim como “Dheepan: O Refúgio”, de Jacques Audiard, que venceu a Palma de Ouro do Festival de Cannes 2015. Nós não precisamos ser tão radicais com “Pebbles”

O longa-metragem, escrito e dirigido pelo estreante Vinothraj P.S. (que foi ator em “Manja Pai”, 2014, de Raghavan), consegue ser traduzido pelo significado de seu título, que quer dizer pedras. Aqui, nós somos convidados a participar de uma “coleção” pelos habitantes da vila de Arittapatti no sul da Índia. De se coletar pedras no caminho. De se mostrar instantes para assim traçar uma análise antropológica de um povo. Que vulnerável, sobrevive como pode. O pai rude ensina o filho com violência, este que por sua vez adentra no processo de adulteração. De ter que esquecer os sonhos (e o próprio futuro de estudar e se tornar “alguém”) para estar inteiro (e defensivo co-dependente) na realidade (de saber que não pode ir a lugar algum). Essa fuga-proteção é captada pela sutileza de uma relação dura. Pelos olhares curiosos sobre o novo observado e reações contidas do menino protagonista (em perspectiva). O maniqueísmo vira necessidade e uma orgânica vida em movimento. O confronto utópico torna-se uma amarga resignação sensorial. O espelho, que reflete e mostra quem se é, não importa mais. “Pebbles” é um walk-movie. Um filme de andança (de melodrama de arte), que apresenta lugares “escondidos”, que “foge” de Bollywood e tenta ressignificar “O Balão Vermelho” (1956, de Albert Lamorisse) com mais cores e desenhos em um ônibus.

“Pebbles” é uma obra de muitos. De muitos quereres. De muitas viagens. De muitos temas. Mas ao expandir o filme perde o que abordar. O público brasileiro percebe outras referências ao sertão. Toda essa margem-miséria desperta a inferência a “Central do Brasil” e “Abril Despedaçado”, de Walter Salles; “Vidas Secas”, de Nelson Pereira dos Santos. O longa-metragem acontece por uma sequência de metáforas. Da armadilha-fumaça para ratos, o “menu” do dia, mas que sai de uma casa. Assim, por mais que tentem, todos eles, sem exceção, sempre serão ratos, ainda que alheios à pandemia neste filme com ares de quarentena.

3 Nota do Crítico 5 1

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