Curta Paranagua 2024

Pare Com Suas Mentiras

Dois tempos de um sentido

Por Vitor Velloso

Pare Com Suas Mentiras

“Pare Com Suas Mentiras”, dirigido por Olivier Peyon, é um drama de trama interessante que se perde gravemente nas tentativas de se aproximar dos clichês que moldam o gênero na indústria cinematográfica. Sem saber se é um romance de flashbacks ou uma memória de romance, o filme caminha na esteira de um desenvolvimento dramático onde o protagonista, Stéphane Belcourt, interpretado por Guillaume de Tonquédec, “reencontra” uma antiga paixão, no caso o filho dele, Lucas Andrieu, interpretado por Victor Belmondo, e toda uma série de memórias ressurgem, com as dificuldades sociais enfrentadas pelos personagens em seus períodos de juventude. 

É um plot, que apesar de brevemente interessante, está longe de ser original, e que o espectador precisa se interessar pelos dois tempos distintos da narrativa, para que o arrastado drama consiga algum efeito prático no público. O problema é justamente que esse equilíbrio entre passado e presente apresenta um descompasso comprometedor para a obra, pois sem saber onde firma seus principais desenvolvimentos dramáticos, o diretor Olivier Peyon, parece ter mais interesse na história do jovem Stéphane (Jéremy Gillet) e Thomas Andrieu (Julien de Saint Jean), apoiando a maior carga em seus flashbacks, tentando apenas algum tipo de justificativa explícita para o presente, onde essa antiga paixão se transforma em uma espécie de redenção da arrogância de Stéphane, de um redescobrimento da região onde nasceu, com a visitação nos lugares que o marcou e todo o processo programático desse tipo de filme. Assim, o que menos funciona em “Pare Com Suas Mentiras” é essa balança de dois tempos, que é o centro primordial  da estrutura da obra. 

Logo, o que poderia ser uma tentativa direta de catarse a partir dos personagens, interpretado por quatro atores, se torna uma arrastada projeção de desejos, memórias e frustrações. Um burocrático retrato de como o cinema comercial europeu precisa de diversas muletas como dispositivo para encontrar alguma efetividade em rascunhos quase aleatórios. Desta forma, é como se esse grande esboço do que o filme pretende ser, um drama de relações passadas e projeções no presente, fosse constantemente freado por limitações formais ou escolhas estéticas duvidosas. A montagem de Damien Maestraggi é confusa por não saber como conduzir os “dois roteiros”, mas isso também ocorre porque a zona de interesse em cada um deles é diferente. Se de um lado é a redescoberta pela semelhança entre pai e filho, junto com a avalanche de memórias, do outro é a descoberta de desejos e entraves nessa relação. E se o leitor não consegue enxergar onde há o desencaixe, é porque este que vos escreve está fazendo um tremendo esforço. 

O roteiro escrito oito mãos (o que normalmente não é um sinal agradável), assinado por Cécilia Rouaud, Olivier Peyon, Vincent Poymiro e Arthur Cahn, não consegue centralizar nenhum de seus eixos temáticos e acaba se perdendo em blocos de desejo e blocos de memória. Mesmo assim, procura reforçar algum tipo de conflito entre o personagem de Stéphanne e Lucas, para criar alguma tensão onde tudo parece ser uma bela constância de “e se”. E nesse misto de coisas, confusões, falta de direcionamento, uma das poucas coisas que consegue chamar a atenção do espectador é a bela paisagem de Cognac e sua beleza natural. Pois, nem a fotografia de Martin Rit parece inspirada para arquitetar essa narrativa, que se apoia em recursos fáceis, onde as cores são miméticas e expressam, sem nenhum tipo de complexidade, cada fração do que o filme presume ser eficiente naquele recorte. 

“Pare Com Suas Mentiras” é desinteressante por não saber para onde apontar seus principais esforços e acaba sendo modorrento por acreditar que apenas o desejo e a memória podem costurar essa colcha de retalhos quase inexpressiva que representa na tela. É uma pena, pois esse tipo de material base, tem tudo para entregar algo minimamente curioso de se acompanhar. O espectador que conseguir se conectar com o filme, provavelmente compreende bem o que o personagem está atravessando, do contrário, deve se entediar com a estrutura desgovernada. 

2 Nota do Crítico 5 1

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