Direção: Felipe Lacerda
Roteiro: Felipe Lacerda
Diretor de Fotografia: Alberto Bellezia
Camera: Alberto Bellezia
Som Direto: Felipe Lacerda
Montagem: Felipe Lacerda
Musica: Fiskal
Edição de Som: Fiskal
Produtor: Felipe Lacerda
Produtor Executivo: Felipe Lacerda
Produtora: Aeroplano Filmes
Formato: DVCAM
País: Brasil
Ano: 2009
COTAÇÃO: ENTRE O BOM E O MUITO BOM
Apresentando a Sessão
“Quero agradecer ao Festival e chamar a equipe. É um filme independente que mostra as varias camadas do que acontece na política. É sobre personagens”, diz o diretor Felipe Lacerda.
A opinião
“A terra oferece o suficiente para satisfazer a necessidade do homem, mas não a sua ganância”, inicia-se o documentário sobre a visão de questionar os nossos representantes. Na verdade, não se julga nada. A câmera capta e retrata o que acontece.
Quando começa a acompanhar a instalação de um gabinete de crise para atender problemas causados pela seca na Amazônia, em outubro de 2005, o documentarista Felipe Lacerda descobre a ponta de um iceberg no mecanismo de distribuição de cestas básicas. Investigando o controle exercido por um deputado ligado ao governo estadual amazonense, o cineasta embrenha-se por vilas ao redor da região de Boas Novas (AM). Nessa pequena localidade, encontra no vereador Quinho um perfeito interlocutor para revelar, muitas vezes inadvertidamente, alguns meandros do varejo da política brasileira. Em torno do vereador, articula-se uma rede clientelista, que distribui favores, transporte e refeição a eleitores em dias de votação – o que é vedado por lei – e mesmo dinheiro. “As comunidades isoladas são o grande problema”, diz-se, com imagens de casas flutuando no igarapé, sem o mínimo da sobrevivência: água potável, saneamento básico, esgoto, luz.
A Força Área Brasileira responsabiliza-se a entregar medicamentos e comidas a essas comunidades, carentes, afastadas por causa das cheias do rio, com o projeto S.O.S Interior. Em outro momento diz-se que os políticos fornecem o transporte aos eleitores para que possam votar. Essas votantes são pegos e deixados em casa. O momento de votar é visto como a caridade dos representantes políticos. Com cartazes passados de “Vote Quinho”, o vereador em questão explica que dá a comunidade o que ela necessita. Ele recebe um salário de 2.200 reais para viver a trajetória de “passear” pelo interior.
O populismo e o paternalismo dos governantes da Amazônia, principalmente de seu Governador Eduardo Braga, que realiza casamentos coletivos. “Quem quiser casar é por conta do Governador”, o autofalante anuncia. Ele discursa como um líder religioso, impondo a religião aos eleitores, escancarando a demagogia. O Estado laico, sem intervenção política, não existe lá, vencendo os cultos religiosos e a manipulação da eleição. O programa de Governo PAI chega a ser desrespeitoso a todos que lutam por uma política séria e ética. “Vamos rezar para chover logo”, diz-se.
A câmera é parte integrante do filme, participa junto, torna-se uma personagem. Dilacera e humaniza a trajetória que o vereador percorrer, em uma tabua de madura, até Manaus. O interior é um lugar perdido, terra de ninguém, facilmente explorada. Os lugares mais inóspitos do Amazonas, com uma pobreza exacerbada, são apresentados ao espectador. É uma selva de ninguém. Nada a lugar nenhum. A maldade de alguém já vivido na facilidade do dinheiro manipula a ingenuidade dos que só conhecem o próprio meio, o próprio lugar sem opção para que se possa crescer e experimentar novas idéias. A limitação presente é observada com simplicidade na visão deles, pena pelas pessoas de bem e um ótimo produto a se vender por outras de má-fé.
O filme levanta outra questão. Que a Amazônica esta acabando. Esta morrendo. E que daqui pra frente é “tudo ilusão”, como reverbera o diretor deste documentário. Há uma cadeia alimentar atrapalhada. Peixes daqui a um tempo estarão escassos. “Se acabarem os peixes, nós temos 25.000 pintinhos que estamos criando para a comunidade. Coloque o nome da sua comunidade aqui, Quinho”, diz um secretario de um governo feliz e satisfeito por possuir o poder da divisão destes animais.
Há políticos sem planejamento e cronograma. Faz-se o que quer e quando quer. O deputado José Melo é um deles. Usa as estatísticas no município de Castanho, que pode ser visto com motoboys (motocicletas em ação), com a musica que passa a idéia que a esperança existe. Alguns reclamam. “Os intermediários são esquecidos. Fazemos o trabalho e quem leva o credito é o Governador”.
A camera novamente apresenta-se como uma intrusa em uma reunião na câmara da cidade. Há a metáfora do submundo, da omissão a sociedade, de encontros reservados e sem a licença para filmar. Então esta câmera acompanha estes representantes na escuridão, até a luz do encontro das pautas políticas em Careiro.
Em Manaus, encontro do Rio Negro e Solimões, a ajuda aparece em ótimo tempo. A população esta isolada pela estiagem do rio e pelo esgotamento de recursos segue dizendo um Governador sem graça e percebendo que aquela equipe do documentário não estava ali para falar bem dele. “Mostrar serviço. Eu to empregado, eu vou adiante”, demonstra claramente o coronelismo do local. Dê porco ao povo. Só com o pouco já fica feliz. Um povo excluído faz festa quando um recebe cem reais, mas outro mais pobre precisa realizar o cadastro para a cesta básica. Não há controle do que acontece. Quem recebe, quem deixa de receber. E não há interesse também. É uma parcela pequena, sem poder de voto, sem opinião formada, que precisa continuar no estado que se encontra para gerar um renda aos que já possuem muito, mas querem mais. Um morador estende uma camiseta que acabara de ganhar do político.
“Eu to doente. Queria comprar um rim.Em São Paulo vende”, diz a mãe de Quinho com uma ingenuidade altiva por ter recursos de conseguir o que quer por facilidades. “Assessor é mais fácil que pescar”, confessa um ex-pescador. Quinho foi reeleito para o terceiro mandato. E pelo andar da carruagem não sai mais de lá.
Finalizando a Sessão
Patrícia Rebello apresenta o diretor Felipe Lacerda para conversar com o público. Com a palavra o diretor. “Levei doze dias. Filmei 30 horas. É um filme econômico. Saí daqui sem saber o que ia ver. Não sabia nada. Uma aventura corajosa”
“No filme ninguém fala da crise ambiental. Era só o imediatismo, a assistência, o paternalismo. Tudo que valia a pena na Amazônia já foi. Agora é tudo ilusão. O homem causou tudo. Como a própria atitude de cada um. A política fisiológica se aperfeiçoa”
“O filme constata, mas não dá respostas. Há a política do imediatismo. O ser humano não quer ser igual, mas é manipulado pela política. A ONG do filme quer causar escândalos, impactos e imagens. Há épocas que as crianças não vão a escola, o barco não vai buscar. É um alarme”
Editor carioca com grande atividade desde 1995, quando editou Terra estrangeira (1995), de Walter Salles e Daniela Thomas. Em 1996, montou os curtas Pão de açúcar, ficção de João Emanuel Carneiro, e Socorro nobre, de Walter Salles, que levou o prêmio de melhor documentário no Festival do Chile. Com Isabelle Rathery dividiu o trabalho de montagem deCentral do Brasil (1998), de Walter Salles. Em seguida voltou a trabalhar para Walter Salles e Daniela Thomas em O primeiro dia (1999). Carioca nascido em 1969, formou-se em jornalismo pela PUC-Rio e foi estudar cinema na New York Film Academy. Enquanto estudava, realizou vídeos e filmes sobre artistas plásticos contemporâneos. Montou a abertura de Como nascem os anjos (1996), de Murilo Salles, o documentário O sonho de Rose, dez anos depois… (2000), de Tetê Moraes, e a ficção A partilha (2001), de Daniel Filho, entre outros. Para a VideoFilmes, montou documentários comoPassageiros (2001), de Dorrit Harazim e Izabel Jaguaribe, O vale (2001), de Marcos Sá Correa e João Moreira Salles, eNelson Freire (2003), de João Moreira Salles. Em 2002, montou o curta documentário Uma pequena mensagem do Brasil – ou a saga de Castanha e Caju contra o encouraçado Titanic, também de Daniela Thomas e Walter Salles, além de ter editado e co-dirigido, com José Padilha, o documentário de longa-metragem Ônibus 174, selecionado para os festivais internacionais de Sundance, Roterdam e Toronto, recebeu o prêmio da crítica e o de melhor documentário no Festival do Rio BR. Montou ainda Sexo, amor e traição (2004), de Jorge Fernando,A dona da história (2004), de Daniel Filho,Entreatos (2004), de João Moreira Salles,O casamento de Romeu e Julieta (2005), de Bruno Barreto,Se eu fosse você (2006), de Daniel Filho, e Anjos do sol (2006), de Rudi Lagemann. Montou também os longas Muito gelo e dois dedos d´água (2006) , de Daniel Filho, e Sexo com amor? (2007), estréia de Wolf Maya na direção. Como diretor, editor e produtor, assinou a série de documentários Em Cuba, fruto de uma temporada sua no país. A série foi exibida em dez capítulos no Canal Brasil em 2007. Em 2008, estréia na TV Globo mais uma série de documentários, intitulada Na China.