Curta Paranagua 2024

Os Banshees de Inisherin

Fim da amizade no meio do absurdo

Por Pedro Sales

Festival de Veneza 2022; Oscar 2023

Os Banshees de Inisherin

Martin McDonagh consegue estabelecer um controle tonal bem demarcado, o que não é fácil, principalmente quando a obra transita por diferentes gêneros. A tensão crescente das investidas de Padráic para reavivar a amizade lida com a recusa de Colm, o qual se prefere a autodestruição à amizade antiga. O filme carrega, então, essa alta dose de imprevisibilidade (é blefe ou ele terá coragem?). As dúvidas do espectador também pairam no elenco de apoio. Siobhán (Kerry Condon), irmã de Padráic, e Dominic (Barry Keoghan) tentam dissuadi-lo da insistência na amizade. Curiosamente, ao mesmo tempo que o público fica inquieto com as situações, existe bastante humor em “Os Banshees de Inisherin”. O texto é sempre afiado e se vale da repetição para reforçar o cômico, como com os donos do pub. Algumas situações arrancam risadas sem o menor esforço (a mentira na carruagem, a confissão para o padre). O mérito da direção reside na capacidade de dosar bem o drama do término com o humor dos diálogos. A excelente integração entre gêneros é o que faz dessa tragicomédia de humor ácido e, às vezes mórbido, uma experiência única.

A criação da aproximação com os personagens se dá por dois fatores: o microcosmo e as atuações. A repetição da rotina, dos caminhos, do trabalho — que é tocar gado —  e das idas ao pub permitem uma imersão natural. O público assimila rapidamente como tudo aquilo funciona, a simplicidade da vida. Dessa forma, por conhecer o padrão de Inisherin e suas atividades, fica ainda mais palpável o incômodo de Padráic, que perde um aspecto basilar da sua rotina: a amizade. O trabalho de fotografia, assinado por Ben Davis, é primordial para a construção do microcosmo. A vastidão da paisagem irlandesa com planos gerais confirma o distanciamento da vila em relação ao restante do mundo (acontece uma guerra civil que não afeta ninguém). A aspereza natural — composta por gramas e pedras — e o isolamento se associam, ainda, ao relacionamento dos amigos. A câmera os enquadra por entre janelas, penetrando o íntimo, mas preservando a solidão. A atuação da dupla Farrell-Gleeson é intrigante logo de cara e cada um, de certa forma, gera identificação. Gleeson mantém uma feição de desdém com a aproximação de Padráic. Farrell, por sua vez, é ingênuo, engraçado e carente. Condon e Keoghan também têm seus momentos, uma conversa à beira do lago nunca foi tão graciosa.

5 Nota do Crítico 5 1

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