Curta Paranagua 2024

Of Gods and Men

Quem são os homens de Deus?

Por Fabricio Duque

Durante o Festival do Rio 2010

Of Gods and Men

Há filmes que se sustentam apenas por sua história, não havendo necessidade de inovar na técnica cinematográfica. “Of Gods and Men”, de Xavier Beauvois, enquadra-se nesta categoria. A narrativa busca o momento, retratando, com planos longos, quase únicos, ações cotidianas como a missa, tratamento médicos e a leitura. Baseado em uma história real, o longa aborda o questionamento da fé incondicional quando expõe a vida de oito monges em um mosteiro no alto da montanha da Argélia, convivendo sem conflitos com a escolha muçulmana do povo do qual fazem parte. Esses, “homens de Deus”, lêem, estudam o Corão, demonstrando a não limitação do pensamento e das ideias. Eles vivem uma existência humilde, sem luxos, apenas com prazeres momentâneos: um bom vinho, uma boa música, um livro raro. Plantam a própria comida e ajudam a comunidade fornecendo remédios e assistência integral, humanizando os pacientes e distribuindo sinceras demonstrações de carinhos e ou presenteando crianças necessitadas com um tênis, por exemplo. É uma vida de franciscanos, ajudando a todos sem olhar e julgar quem são, principio geral da doutrina católica. Aos poucos o mundo externo é mostrado, utilizando o simbolismo do silêncio (do monastério) e do barulho exacerbado (fora dali).

A câmera de “Of Gods and Men” ambienta o lugar quando mostra os indivíduos, captando conversas banais sobre assuntos quaisquer. A política religiosa e social começa a acontecer, por reuniões entre catolicismo e islamismo. “Quem mata quem?”, sobre religiosos radicais que desejam fazer justiça sendo o próprio Deus. Os monges precisam decidir qual a proteção desejam, porque estão “convivendo com o desconhecido”. O roteiro objetiva cortes secos e diretos. Assim, cria a naturalidade do que está sendo apresentado e gera o convencimento totalitário por parte do espectador.

O “novo” necessita-se de conhecimento, causando a saída do conformismo de seus mundos, transformando a teoria religiosa aprendida em prática. É inevitável o medo (porque são homens e não deuses). Esse sentimento coloca em dúvida a própria crença, que precisa ser seguida sem ressalvas. Se a morte for necessária, morre-se por Deus. O detalhe é que não estão preparados para isso e nem tão pouco querem fornecer suas vidas, mesmo tendo abdicado dela no inicio. Há ingenuidade em acreditar que a fé inabalável os salvarão. “Quem são os homens de Deus”, é a pergunta que fica. As provações são recorrentes, então a confiança é o mote para resolver situações conflituosas. Eles precisam conhecer o inimigo, disputando opiniões religiosas e ganhando pelo argumento persuasivo. “Ir embora é fugir”, alude-se à fé, entre cantos gregorianos. “Sua teimosia está ficando perigosa. Não é covardia querer ir embora”, diz-se. Um “inimigo” está cada vez mais próximo. Os “Freis” cantam mais alto para que o barulho, que se intromete no “lugar de Deus”, seja abafado. “Não tenho medo da morte, sou um homem livre”, diz-se. Tornam-se reféns dos radicais (terroristas). Trocando uma prisão por outra. “Eu rezo, mas não ouço nada. Somos mártires de Deus? Fazemos isso para sermos heróis?”, um monge questiona-se. Concluindo, “Of Gods and Men” é um filme que expõe o lado humano de “servos” de Deus quando são confrontados com o perigo real.

5 Nota do Crítico 5 1

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