Curta Paranagua 2024

O Próximo Passo

White People Problems: O topo da pirâmide de Maslow

Por Giulia Dela Pace

Festival Varilux 2022

O Próximo Passo

“A teoria da motivação humana”, estudo publicado em 1943 por Abraham Maslow, dividiu as “necessidades humanas” em cinco grupos compreendidos como níveis, organizados em uma pirâmide. Sendo a base as necessidades mais urgentes de existência, como: fisiologia, segurança e social. E mais para o topo: estima e realização pessoal. E “O Próximo Passo” é um filme sobre uma mulher branca de classe média alta e seus conflitos em busca de realização pessoal, o que é geralmente reconhecido como “white people problems”. Ou seja, problemas considerados fúteis se comparados aos conflitos das grandes parcelas da população mundial que costumam ficar na base da pirâmide. O filme ainda carrega certo estilo “netflixiano” de ativismo barato com o mínimo de elegância cinematográfica possível, o que, definitivamente, pelo histórico do diretor – Cédric Klapischnão é muito a praia dele.

Elise Gautier (Marion Barbeau), é uma das bailarinas principais de uma companhia de ballet clássico na França. Aos vinte e poucos anos, ela fratura o pé durante uma de suas apresentações e acredita que nunca mais poderá dançar. A partir desse momento ela passa a ter encontros com outros personagens que mudam sua visão de vida e perspectivas sobre carreira e futuro, até se encontrar no ballet contemporâneo. E nenhum ator falha em momento algum em sua atuação ou em cumprir as funções dos personagens, especialmente os que interpretam dançarinos. Quando a escolha de elenco: impecável. Especialmente pela participação de Hofesh Shechter – interpretando ele mesmo –, pois é um dos grandes nomes atuais da dança contemporânea\pós-moderna. Mas não deixa de ser só mais um draminha burguês enjoado.

Há momentos até engraçadinhos, mas que definitivamente não condizem com o tom de “O Próximo Passo” e os desdobramentos. Então ficam perdidos na narrativa e causam certo estranhamento e quebra com o efeito da “vibe” do longa. Tudo isso dentro de uma construção bem basiquinha da obra como um todo, mas que no começo a fotografia até entrega certo sentimento e intensidade, que logo se perde na entrada de Elise no palco. E tudo vira só mais uma filmagem de apresentação de ballet e filmezinho genérico “netflix”.

Ainda assim, a paternidade que tenta suprir a ausência da mãe é uma questão muito bonita que o longa aborda. A relação de Elise com seu pai, um advogado bem sucedido, pai de três filhas independentes que ele cria há quase 20 anos sozinho após a morte da mãe. Uma paternidade que é pouco representada e que faz sentido ser vista pelo ponto de vista das filhas, já que homens nessa situação tendem a quer ser vangloriados pelo simples trabalho de terem sido apenas pais e se preocupado com certas questões que mães geralmente nem mesmo são lembradas por fazer diariamente, pois essa seria uma condição materna básica, não paterna. Assim, eles tendem a não lidar bem com o fato de serem confrontados ou cobrados a demonstrarem o mínimo de afeto ou não serem tratados como heróis por terem feito o mínimo que a maioria das mulheres nesta posição devem fazer todos os dias.

“O Próximo Passo” em definitivo se compromete com certas questões sociais e visões de mundo politizadas e cumpre todas de forma satisfatória. Sejam os “colapsos” feministas de Elise, o senso de realidade com a dança e a relação do ballet clássico ainda estar vinculada a uma visão alienada da mulher e seus papéis sociais impostos e até mesmo a relação de Elise com seu pai (Denis Podalydès). O tópico da dança é, em particular, uma explanação mais direta sobre a transição na vida de Elise Gautier e a própria visão do filme sobre o ballet clássico e a dança contemporânea e suas oposições que influenciam na visão de mulheres também possam ter de suas vidas. 

Por fim, não há nada muito genial no último filme de Cédric Klapisch – “O Próximo Passo”, carrega certa carga significativa de filme genérico, mas que é bem feito e não se deixa pecar muito, tendo em vista que o longa não se permitiu faltar certas noções e elementos básicos, como também alguns conceitos e ideias interessantes amarradas ao contexto da protagonista e evento de uma narrativa redonda. No fim é um filminho bem bem meia boca, mas que consegue ser competente em tudo que promete entregar.

2 Nota do Crítico 5 1

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