O Prazer é Meu

sexo, maconha e otras cositas más

Por Clarissa Kuschnir

O Prazer é Meu

Nem se discute que nas últimas décadas, o cinema Argentino tem levado para as telas dos cinemas produções relevantes, com roteiros bem elaborados e personagens bem desenvolvidos, apesar de que hoje, a distribuição está mudando de rumo, com as novas regras do novo Governo da direita, bem radical de Javier Milei.  Até o Oscar chegar em nossas mãos neste ano de 2025 por Ainda Estou Aqui de Walter Salles, a Argentina era o único país da América Latina a receber duas estatuetas douradas (do careca mais famoso do mundo do cinema), na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, pelos ótimos e merecidos “A História Oficial” de Luiz Puenzo em 1995, que eu revi há pouco tempo e mais recente por “O Segredo de Seus Olhos” (apesar de eu preferir “O Filho da Noiva”), de Juan José Campanella, em 2010.

E não são só com os longas que se vê essa qualidade e um maior cuidado com o roteiro. Tive a oportunidade de ser uma das visualizadoras este ano do Kinorofum – Festival Internacional de Curtas de São Paulo, na Mostra Latino Americana. Vi centenas de curtas argentinos, em que eu diria de bons para ótimos. E isso me deixou pensativa, já que nosso cinema nos últimos anos tem se destacado nacional e internacionalmente. Tanto que muitos dos cineastas preferem estrear seus filmes em grandes festivais internacionais, para depois chegarem no Brasil. Mas isso é uma discussão longa, para outra hora pois faltam salas, distribuição descente para o cinema autoral e a formação de público por aqui ainda é muito escassa.

Retornando ao cinema Argentino, chega aos circuito comercial no Brasil pela Vinny Filmes o longa “O Prazer é Meu” do cineasta Sacha Amaral, que, inclusive, é brasileiro, mas vive há 20 anos na Argentina. O filme, cujo título diz um pouco para que a obra veio, narra o dia a dia de Antônio (Max Suen) que vive para dar prazer as pessoas. Mas esse prazer pode ser sexual, pode ser através da venda da maconha para seus clientes, seguido de pequenos furtos (que é o que parece dar o maior prazer para ele), pelas casas por onde o jovem passa. No decorrer do filme vemos que o que interessa mesmo para Antônio no final das contas é o dinheiro, para poder fugir daquele seu mundo sem futuro, da periferia da cidade. Nada parece verdadeiro ao seu redor, a começar pela relação conturbada com sua mãe (uma ex-garota de programa), que a princípio parece bacana, mas descamba no final, passando pelos romances bissexuais de um personagem perdido e em busca de talvez um grande amor, ou um rumo na vida? Isso faz com que o personagem provoque uma reflexão em nós mesmo sobre as dificuldades que muitos jovens da mesma idade e de regiões periféricas passam. Justamente por falta de oportunidades e por crescerem em famílias disfuncionais, como a de Antônio.

Em uma das cenas de brigas entre o protagonista e sua mãe chega a provocar um mal estar, pelas palavras pesadas ditas pelo filho que não sabem nem que é seu pai. Durante todo “O Prazer é Meu” o diretor optou por vários diálogos em tela preta (os fades), em que por alguns instantes apenas lemos a legenda e esperamos pelo que virá em seguida, o que pode ser um pouco incomodo para alguns, Mas o cinema é linguagem e o diretor escolheu esse modo de contar a história. O prazer do personagem, e vamos observando, é tão passageiro quanto seus encontros efêmeros, mesmo que para alguns dos personagens passe a significar algo mais longo e verdadeiro.

Antes de dirigir “O Prazer é Meu” o diretor escreveu o roteiro do premiado “Adeus Entusiasmo”, de Vladmir Durán e assinou mais três curtas, entre eles “Billy Boy”, selecionado no Cinéfondation do Festival de Cannes, com menção especial no Queer Lisboa 2022. Neste seu primeiro longa, que dividiu o prêmio principal no Bacifi – Festival de Cinema Independente de Buenos Aires 2024 com A Paixão Segundo GH, de Luiz Fernando de Carvalho, o Brasil entra como uma das co-produtoras pela Quadrophenia (lançando seu primeiro filme), ao lado da França.

3 Nota do Crítico 5 1

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