Curta Paranagua 2024

O Império de Pierre Cardin

Protocolos institucionais e adjetivados

Por Fabricio Duque

O Império de Pierre Cardin

Moda é um comportamento de uma dada época histórica. É um sinônimo de “costume”. Um padrão a ser seguido para se estar bem vestido. Mas na prática, o conceito de moda é uma tendência, de olhar específico e subjetivo, em que são estabelecidas formas e cores de uma estação. Assim, os estilistas obrigam-se a transcender e a transgredir toda essa vanguarda. Um dos exemplos mais marcantes é Pierre Cardin, uma “marca internacional”. O documentário “O Império de Pierre Cardin” (2019), realizado por P. David Ebersole e Todd Hughes, e que estreia amanhã nos cinemas brasileiros, busca homenagear em vida o estilista nascido italiano e naturalizado francês.

“O Império de Pierre Cardin” é um filme que se desenvolve por adjetivos, a fim de personificar traduções sobre o artista que “revolucionou os pilares da indústria da moda”, que “inventou” a alta-costura e que fala sobre si na terceira pessoa “porque é um elemento”. “A marca está em uma terceira dimensão, não é mais sobre mim”, diz. A estrutura narrativa do documentário discorre pela edição ágil, como ininterruptos fragmentos à moda de um flash fotográfico, complementada pela atmosfera-transição do final dos anos sessenta e início dos anos setenta (seu Art Nouveau Print Vintage) e especialmente curiosa pela performance do próprio Sr. Cardin na música “Fashion Democratizer” (“Democratizar a moda”, uma das críticas que enfrentou entre os mais radicais Prét-à-Porter, este romanceado às telas pelo diretor Robert Altman, e foi chamado de “socialista da moda”).

Pierre Cardin chega e quebra os paradigmas ao “inventar o estilo moderno” e introduzir a liberdade orgânica do cotidiano. “Um verdadeiro imperador”, o “monumento francês que representa a história da moda”, “o extra-terrestre da moda”, um gênio”, um “enigma”, “alguém que personifica o mundo do passado e também o mundo do futuro”, que “tem ouro em suas mãos, como se fosse num passe de mágica”, que “vestiu os Beatles” e que “libertou o corpo da mulher das formas”, dizem os entrevistados, como Sharon Stone e Jean-Paul Gaultier. O longa-metragem, uma visita guiada ao museu de Pierre Cardin pelo próprio homenageado-protagonista, quer a elegância internalizada do pop. Uma cápsula-percepção atemporal da união do novo (imagens na Itália da casa que Pierre morou) com o velho (imagens de arquivo de uma Paris dos anos cinquenta-sessenta e entrevistas da época). Uma alquimia retrô”, ”reconstruindo as interpretações clássicas”. Quando perguntado sobre o “segredo para juventude”, a resposta do artista não poderia ser diferente: “trabalhar, trabalhar e trabalhar”, tudo para “preencher” o legado aos 96 anos com “quatorze andares de roupa”. E que nunca desistiu de um projeto. Um “exigente” que “gosta de terminar tudo que começou”. “Se eu não fizer, outra vai e faz, então eu faço”, diz. Talvez Pierre, que faleceu em Paris, 29 de dezembro de 2020, só estivesse esperando o filme ficar pronto para “abrir” uma filial eterna.

“O Império de Pierre Cardin” é sobre o círculo da eternidade. Uma continuação. Sobre um movimento retroalimentado por Pierre Cardin em suas roupas, suas artes, seus estabelecimentos e seus amores “não misturados”, “homens másculos e mulheres femininas”.  André Oliver e Jeanne Moreau. Pierre encontrou um mundo livre e zerado para “vestir” e hoje só consegue transgredir por causa de sua idade, sua fama e sua importância história, apesar da “monotonia e do “politicamente correto”. “Não estou aqui para impor, mas para propor”, pontua com efeito.

Nós somos imersos em uma experiência: a de sentir o Pierre humano e o Cardin profissional. Contudo, o querer dos diretores de ser fiel  estruturalmente à democratização do contexto-curadoria gera uma colagem fragmentada mais superficial, mais institucional, mais protocolar e mais acadêmica, como uma Escola de Moda. Essa liberdade pode soar datada e ingênua, de fãs ávidos e excitados por terem a honra-privilégio de contar a história do ídolo. “O Império de Pierre Cardin” é assumidamente um realização pessoal. Pierre é “eternizado” por olhos sempre positivistas e mitigados de erros. Isso está visível-explícito na montagem em que suas falas encerram-se com atitude definitiva, sem tempo de réplicas. Essa “curadoria” também é permitida, visto que os diretores são os responsáveis diretos pelas escolhas. Do que se fica. Do que se tira. E do porquê de cada mudança. Foi eleito Embaixador da Boa Vontade da UNESCO em 1991 e da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura em 2009. E foi ator em “Joanna Francesa” (1973), de Carlos Diegues, ao lado de sua esposa Jeanne Moreau. Mas nem todos os acontecimentos de sua carreira-existência foram enunciados e abordados aqui. Como já foi dito, a “curadoria” especial não os selecionou. Talvez nos extras do DVD?

3 Nota do Crítico 5 1

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