Curta Paranagua 2024

O Clube dos Anjos

Os desejos e suas consequências

Por Vitor Velloso

Durante a Mostra CineBH 2022; Festival do Rio 2022

O Clube dos Anjos

Diretamente adaptado do livro homônimo de Luis Fernando Veríssimo, “O Clube dos Anjos” chega ao Festival do Rio com alguma expectativa do público, pois não é todo dia que uma obra consegue unir um elenco com nomes como: Matheus Nachtergaele, Otávio Müller, Augusto Madeira, André Abujamra, Marco Ricca, Paulo Miklos, Ângelo Antônio, César Mello. O filme, dirigido por Angelo Defanti, é um prato cheio para quem gosta de uma dinâmica que rompe com limitações da representação de diálogos e clichês. O longa é capaz de manter sua narrativa em praticamente apenas um cenário, a mesa de jantar, sem que isso se torne repetitivo ao longo da projeção. Para conseguir isso, algumas estratégias de introdução das características de cada personagem são apresentadas nos primeiros minutos, desde caracterizações orais de uma história, até o poder sintético de uma transição que retire as crianças de cena, introduzindo os atores adultos, enquanto expõe os traços primordiais de cada personagem. Essa habilidade de condensar rapidamente os aspectos fundamentais da narrativa, é importante para inserir o espectador no espírito canastrão que circula por “Clube dos Anjos”. Não por acaso, algumas memórias possuem uma série de sobreposições e câmeras lentas, onde um suposto clima de mistério é apresentado tanto pela fotografia, quanto pela trilha sonora. 

Porém, essa tragédia, constantemente anunciada, possui uma incompatibilidade com o lado cômico do filme, pois a forma como essa costura é trabalhada, prejudica o andamento do projeto. Em determinados momentos, o espectador acredita que está diante de uma obra que tira sarro de si, na medida que Lucídio (Nachtergaele) sempre faz caras misteriosas, aparecendo com contrastes pesados no rosto e as atuações são expositivas. Em outras situações, parece que estamos diante de uma alegoria, um tanto desajeitada, envolvendo pecados, culpas e largos desejos culinários. Essa falta de sintonia nos dois pólos de construção da narrativa acaba prejudicando a experiência na medida em que o espectador não consegue se desvencilhar da exposição dos dispositivos cinematográficos e passa a racionalizar sobre a própria situação da obra. 

“Clube dos Anjos” é avesso à seriedade das consequências dramáticas que ocorrem. Essa atitude reforça o grau de estranheza que é provocado ao longo da projeção, ainda que seja uma saída semi-paródica de resolução dos conflitos. Da mesma forma que o espectador é convidado a não desvelar determinados mistérios, o filme parece fazer piada de sua verborragia dramática, grandiloquentes citações e exposições da trama. Um exemplo disso é a cena em que podemos observar um escandaloso zoom se aproximar do rosto de um personagem e a luz vermelha realçar o destaque dramático na cena. Está claro que esse é um exemplo mais explícito, que sendo um destaque, pode ser referido de maneira exemplar, mas toda a obra é norteada por cenas relativamente análogas. As citações literárias procuram unir o tom trágico com a comédia, sem grande efetividade cômica, ainda que com algum mérito na forma como lida com a totalidade. Ou seja, o que não funciona isoladamente, ajuda a fazer com que o longa esteja próximo de um resultado satisfatório. 

Essas dualidades transformam as percepções em altos e baixos que comprometem o fluxo contínuo. Contudo, a fragmentação permite que os diferentes acontecimentos sejam cada vez mais próximos de situações episódicas, quase como um sadismo narrativo, onde o fim é anunciado com a normalidade de uma tragédia. 

Entre tantos poréns e relativismos, “Clube dos Anjos” é desconfortavelmente seguro de suas escolhas e construído de forma quase maniqueísta para perder a seriedade. As atuações ajudam nesse processo, pois a exposição quebra qualquer recurso dramático acentuado. É possível ver Samuel (Paulo Miklos) reagindo ao fundo nas câmeras lentas de brigas políticas entre Pedro (Marco Ricca) e João (Augusto Madeira), ou mesmo Daniel (Otávio Müller) com seu excesso de permissividade com Lucídio. Com alguma certeza, é possível dizer que a forma como o filme nos entrega as tramas implícitas, faz a experiência ser tão previsível quanto gostaria, a grande questão é se o funcionamento disso resulta em grandes resultados. Dessas contradições, surgem bons momentos e sacadas de Defanti, mas no fim, falta um tempero que nos faça deliciar a última refeição. 

3 Nota do Crítico 5 1

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