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O Candidato

Encripta

Por Vitor Velloso

Cinema Virtual

O Candidato

Em meio aos filmes “políticos” do cinema contemporâneo, “O Candidato” de Rodrigo Sorogoyen, é o produto perfeito para o mercado internacional. Produto de exportação na medida, pro mundo inteiro. Não pende para nenhum lado, não se conscientiza do que está filmando, muito menos daquilo que está sendo debatido. Possui a intenção de denunciar a corrupção como quem está fora de qualquer eixo de debate, ou seja, o famoso centro, em cima do muro, aquele mesmo movimento político que se iniciou em 2013 e nos enfiou onde estamos.

O discurso acima ser compreendido como uma espécie de defesa da corrupção é de uma gangrena intelectual sem precedente, um mau-caratismo de quinta categoria que deve ser investigado junto ao psiquiatra. Pouquíssimo eficiente no que se propõe, uma proposta de gênero, em meio ao caos político, de revelações midiáticas e delações, “O Candidato” patina do início ao fim neste exercício canhestro, sem se fixar nos espectros está expondo, saltando de um diálogo rápido à outro como se o fluxo do desespero fosse compreendido na forma, mas parece mais uma tentativa rimada de balburdiar o ritmo, o que fica claro com os cortes rápidos para os planos do protagonista andando rápido de um lado para o outro, a fim de resolver algum problema. E acredite, são muitos planos assim. Muitos.

E tudo parece um desenho com relativo valor de produção à lá o centrismo “vagabundesco” e preguiçoso de “O Mecanismo” ou o maneirismo popular reacionário de “Polícia Federal: A Lei É para Todos”. Ambos, enquanto projeto político são absolutamente inócuos e fadados ao fracasso pela ausência de argumentação minimamente lógica no campo pensamento ou da realidade. E enquanto cinema, conseguem agredir os olhos do espectador, que ousa adentrar no universo político que eles fingem debater.

Antonio de la Torre, que interpreta Manuel, o protagonista, busca sustentar o pouco de base dramática que há no texto, ainda que se esforce de forma assombrosa para tal, possui pilares que são insustentáveis. As microcenas representam o elo mais frágil do longa, pois pouco dizem, nada acrescentam, mas estão ali para dar o ar “complexo” para toda a trama, que é monossilábica. Os diálogos expositivos acreditam na compreensão dos mesmos através desta facilidade da oralidade direta, mas parece não internalizar a objetividade da trama, rodeando, como na televisão, cada pauta que circula a história principal. E enquanto faz das tripas coração para que seja “tenso” e “atravessado” por diversas novas vertentes da narrativa, vai se afundando cada vez mais no tédio absoluto do comum, agregando absolutamente nada para o debate, pois foge do mesmo constantemente.

Tais projetos agem de absoluta má fé com a própria arte cinematográfica, pois não reconhece, na prática, a posição política que está inerente ao ato de filmar. Enquadrar é sempre excluir, mover a câmera é excluir/incluir. Rodrigo Sorogoyen age com profunda consciência ao se manter isento e trepado no muro, como quem possui medo de cair para um lado, seja por julgamento ou pela própria realidade.

Já escrevi o mesmo trecho em outra crítica, mas devo ressaltar a fala de Black: Avisa pros amigo que ficam em cima do muro Que eu vou começar a pôr cacos de vidros nessa p0#$@. Não cabe ao espaço ressaltar a importância do que se faz no cinema enquanto manifesto político, mas cabe a denúncia de renunciar ao cargo que nem existe de forma prática. Covardia é um sintoma comum entre os pilantras.

Como dito no início, “O Candidato” é enquadrado na “Lei de Incentivo à Exportação”, possui o formato perfeito para a comercialização do mesmo no mercado conservador que quer a manutenção eterna da polarização político, pois o poder do capital, apesar de possuir cor e gênero, surfa na crista de quem consegue negociar melhor. Logo, o filme “denúncia” de Rodrigo, apenas serve de mercantilização ideológica de uma verve “anti-corrupção”, mas que o faz através de um drama da lei do “menos corrupto”, da covardia absoluta. Não à toa, Manuel parece ser uma espécie de reflexo do filme, que corre de todos os problemas, busca ocultar tudo, sempre escorrega na hora H e não passa de um rato acuado que a vida irá cobrar.

2 Nota do Crítico 5 1

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