Nós
Quiçá, o produto
Por Vitor Velloso
Durante o Cine Ceará 2020
Os curtas-metragens se encontram em local privilegiado para possíveis experimentações formais, tanto por uma libertação com eixos de produção que visam o pragmatismo mercadológico e da linguagem, quanto pela curta duração abrir margem para um provocação diferente dos longas-metragens. Contudo, existem caminhos para o esvaziamento percorrendo uma necessidade de formalizar algum espectro referencial. “Nós” de Hugo Moura e Ricardo Burgos é um exemplo prático de uma dicotomia anti-dialética da forma enquanto conteúdo, pois vislumbra um estilo em rigores diversos, transmutado entre referências cinematográficas explícitas, uma câmera na mão que tenta romper com a idealização da mise-en-scène, a luz verde que tenta concatenar uma possível complexidade nos caminhos dramáticos.
Essa gama de solturas diante da própria estrutura é fruto de um ímpeto constante do arquétipo pré-arquitetado pela linguagem comumente reconhecida a partir da mais-valia ideológica e estética promovida pela classe dominante. O curta busca ser intimista diante de sua trama e personagens, mas acaba se tornando inócuo pela própria tentativa excessiva de formalizar determinados desejos. Se o que nos importa é o “como”, não o “sobre”, “Nós” também se encaixa no limbo dos determinismos academicistas, pois seu pretenso rigor não vem acompanhado de força criativa, apenas reprodutiva.
Integrante da mostra competitiva de curtas-metragens do Cine Ceará 2020, “Nós” parece apostar excessivamente na normatividade opinativa em torno do que é o “bem produzido” ou “bem finalizado” e acaba fragilizando a própria estrutura, pois não parece acreditar em seu objeto apenas na objetiva. É mais um formalismo consensual estético.