Noite Perpétua
O algoz do outro lado
Por Vitor Velloso
Durante o Olhar de Cinema 2020
“Noite Perpétua” é mais um retorno ao rigor estético. Agora, sendo absolutamente consciente dos caminhos que trilha, criando tonalidades distintas para diferentes momentos do projeto, pois reconhece em si a amplitude para que a linguagem se torne o campo fértil das forças divergentes dessas contemplações.
Pedro Peralta, diretor, consegue compor um mosaico de multiplicidades formais, pois concebe uma fixação pelo plano, como quem respeita a encenação única e concreta, mas articula para que haja espaço às digressões ao classicismo acadêmico. É um projeto que une em si, um zoom memorável em seus 17 minutos de exibição e consegue impactar com um breve plano de apresentação dos algozes como forças fantasmagóricas de um tempo e espaço que não se enquadram na gênese humana ali presente.
E essa secção é particularmente vigorosa, pois consegue estruturar camadas e campos que são tocados apenas através do onírico, da digressão real. O choro constante da criança é uma tônica que sustenta essa base real para que possamos acompanhar a sequência que nos leva ao devaneio formal. Que é onde o campo material estabelece seus limites imediatos, o espaço e o tempo situam um terreno de relações particulares onde a política se torna o exterior, e vontade, enquanto motor que atravessa as relações dramáticas e narrativas da obra. “Noite Perpétua” fica com o espectador após o fim da exibição, é hermético, mas não distancia, é material, sem vulgarizar a política e é terreno, sem se tornar expositivo. É a ditadura e seu contraponto de dignidade e gênese.