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Noite Mágica

Noite MágicaNoite Magica

Ética canhestra e violenta

Por Vitor Velloso

8 1/2 Festa do Cinema Italiano 2019

 

De tempos em tempos uma comédia italiana fajuta chega aos cinemas brasileiros de rua das áreas nobres da cidade, para acalentar o público branco, além da mediocridade coletiva, todas possuem uma coisa em comum, uma tendenciosa intenção de permanecer na zona artística e comercial simultaneamente, compreendendo que a distância entre as nomenclaturas corriqueiras, cobra um esforço grosseiro do realizador.

Noite Mágica” não é diferente, Paolo Virzì, diretor, faz um esforço monstruoso para concretizar um espírito nostálgico de uma período que nunca se desenhou daquele modo, a falsa nostalgia é sustentada por três personagens estereotipados que fazem uma visita à Roma e vivem uma utopia de sexo e libertinagem que é interrompida por uma morte inusitada de um famoso cineasta. Porém, as últimas pessoas a ter contato com o morto, foram os três jovens, logo, são indicados como suspeitos rapidamente.

O roteiro mambembe, se iguala a direção de Virzì, que insiste incansavelmente em produzir uma movimentação narrativa ininterrupta, buscando uma produção de frenesi dos acontecimentos, porém, não passa de um artifício tolo que se molda em referências mal indicadas ou interpretadas, tão vazias quanto o objeto que se utiliza de trabalho. Por seus absurdos de roteiro, acredita estar sendo pragmático em quebrar as próprias concepções, mas tomba em um limbo de nada com moralismos e defesas grotescas de atitudes reprováveis, quando não criminosas.

A projeção fálica de uma produção artística, retirada de relatos etílicos e entorpecidos dos livros que coroam a era como o fim do verdadeiro cinema italiano. A inocência produzida aqui é tóxica, pois não parte do diretor, mas sim do material, o realizador é negligente em grande parte de suas propostas, flertando com seus personagens mais grosseiros. A atitude revela um caráter mal intencionado da própria obra, se já não bastasse o teor histórico. Diluindo-se em releitura do mundo retratado e fidelidade canhestra de um espírito viril e nocivo de uma conjuntura inexistente.

Enquanto a fotografia de “Noite Mágica” busca a conciliação entre comercial e arte, citada mais acima, vemos como ser condescendente é necessidade da produção, pois compreendemos as possibilidades da direção de fotografia e suas potencialidades, mas a inclinação ao óbvio sempre vence na decisão final, tornando a verve de destaque e mediocridade coletiva. Os atores são parte de uma equação difícil de decifrar, pois funcionam parcialmente bem dentro da proposta, mas são tão mal intencionados e unidimensionais que torna-se um exercício frágil indicar parte de seus processos nos personagens.

Aliado a todo o processo duvidoso de fazer comédia com possibilidades violentas de atingir politicamente questões que são absurdamente anacrônicas (digo isso para me defender do argumento volátil que trata-se de épocas diferentes), como estupro, o longa ainda se concentra nas características primárias, e únicas, de seus protagonistas, buscando uma paródia de retrato histórico em comédia fantasiada de trabalho autoral (ideia pouco confiável, além de datada), o que reduz drasticamente o público para os cinemas citados no primeiro parágrafo do texto.

Este que faço duras críticas há tempos, pela redução de olhar classista e categorizante da imagem e das discussões que qualquer projeto pode abordar. Não à toa, “Noite Mágica” é um contorno fragmentado deste seleto e elitizado espectador, retratando, ainda que às avessas, todas as problemáticas que essa sociedade que vive à margem dos alvos diretos do Estado.

A vulgaridade que se obtém de um objeto como este é muito além da moral, atinge a ética daqueles que são retratados de maneira simplória na tela. Que curiosamente atinge os artistas também, algo que o diretor deve conceber de maneira horizontal a partir de suas leituras equivocadas do que o caracteriza como tal. Desta maneira todas as três faces são retratadas com a linguagem reacionária de quem consome compulsivamente o que seus olhos presenciam, mas nunca o que enxergam.

A dúvida é se trata-se de mal caratismo ou alienação política/artística, pois esteticamente seus méritos são deslocados da própria contextualização que insiste em masturbar. A respeito do revisionismo crítico que busca fazer, lhe falta atitude crítica da plasticidade e de um texto que ao ignorar a prática político cultural de seus ídolos, cai em um esquecimento doentio.

2 Nota do Crítico 5 1

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