No Rio das Borboletas
Representações e Narrativas
Por Jorge Cruz
Mostra Sesc de Cinema 2019
“No Rio das Borboletas” é um dos representantes do Amazonas na 3ª Mostra Sesc de Cinema em novembro de 2019 e levará ao público de todo o país o trabalho de Zeudi Souza, que apesar de contar com menos de quarenta anos circula na produção audiovisual amazonense com propriedade há muito tempo. Seu curta-metragem mais recente, porém, se ancora em representações necessárias, deixando passar um desenvolvimento de enredo que poderia se tornar a narrativa uma aliada da força em que se baseia o protagonismo feminino.
O filme, pensado como roteiro em 2013, foi filmado em 2015 na zona rural de Manaus e nos apresenta a uma família de quatro mulheres. Kallima, irmã mais nova, tem autismo. A matriarca Rosa está doente e suas outras duas filhas, Erasmia e Doriana precisam levá-la em uma canoa para um local onde ela possa ser atendida. O já tradicional uso de drones, tanto no início quanto no final da produção, traz a sensação de que faremos uma breve visita àquelas pessoas. Usando uma caixinha de música como elemento de ligação da história, a trilha marcante que lhe serve de fundo parece usar da mesma dicotomia da obra de Zeudi Souza: grandiosa nas representações, porém simples em sua construção.
Construindo diálogos acerca da ausência de referência masculina no núcleo familiar e a dificuldade de acesso a serviços de saúde, “No Rio das Borboletas” não se faz valer da riqueza que a ambientação natural de sua história lhe permite. Há uma transitoriedade de cenas, que não se assume contando algo, mas apenas mostrando. Só que com uma conclusão que tenta concluir um arco parece querer enquadrar o curta-metragem no primeiro cenário – tornando mais difícil a materialização de mensagens. Um fórmula que pode funcionar quando há um aditivo poético ou contemplativo. Ao vestir o manto da narrativa, apenas representações, por mais louváveis que sejam, não se seguram sozinhas.