Curta Paranagua 2024

Na Casa do Diretor

Um barato daqueles

Por Vitor Velloso

Durante a Mostra CineBH 2021

Na Casa do Diretor

“Na Casa do Diretor”, de Marc Isaacs, é uma experiência realmente inusitada. Um “documentário” que vai surpreendendo o espectador por uma série de acontecimentos pouco convencionais. Inicialmente o que parece mais um processo, onde vemos a produção do filme se desenrolar e o “acaso” se torna a própria obra, porém conforme a projeção avança, percebemos que algumas coisas não parecem se encaixar, não apenas pelo sem-teto eslovaco, a faxineira colombiana, o britânico reacionário, a vizinha paquistanesa e o dono da casa que filma tudo compulsivamente, mas por desdobramentos desse encontro curioso.

Apesar de algumas sequências engraçadas, a construção geral parte da hospitalidade como base da narrativa, algo que fica mais claro no fim. Mas ainda que exista alguma mensagem exibida nos segundos finais e que esse seja o discurso comum na obra, o barato é tentar diminuir alguns limites entre o documentário e a ficção, a fim de construir uma experiência que seja capaz de gerar algum impacto em meio ao caos, o que termina em uma comédia pouco usual. “Na Casa do Diretor” não assume um debate em meio aos conflitos culturais, pelo contrário, expõe as questões de maneira direta sem a pretensão de discursos sobre o que é apresentado. O que está no centro da imagem, é o que é, e esses embates são parte de um dia louco.

Durante uma hora e quinze, estamos na companhia de uma série de personagens parcialmente caricatos, que convivem por algumas horas e é o suficiente para gerar uma baita confusão. Por um lado, é interessante como Marc assume um gênero particular, para trabalhar essa dissolução dos limites que separam a ficção e o documentário, por outro, o dispositivo expõe que tais divisões sustentam a própria forma. É a partir da dinâmica da narrativa que o espectador se deixa levar pela suposta “naturalidade” dessa encenação, onde as próprias reflexões limítrofes tornam-se o motor do barato todo. Mas também é possível se cansar desse jogo proposto, pois até os quinze minutos finais, existem algumas repetições de estereótipos, que vão e voltam nesse cotidiano. Está claro que é difícil reconhecer em alguns momentos a própria encenação e o registro em si, porém um jogo de poderes está constantemente sendo colocado em xeque quando a “normalidade”, para o cineasta, é confrontada. Não é impossível começar a notar parte dessas armadilhas, o que não deixa de ser engraçado também.

Se debruçar sobre “Na Casa do Diretor” é um exercício pouco honesto, pois está tudo ali, dado, exposto, encenado e registrado. Aliás, parte da trama parece se esquecer no meio dos movimentos internos da casa, em especial a necessidade de Marc de “fazer um filme sobre serial killers violentos”, o que acaba gerando uma reviravolta curiosa no meio da projeção. A história das fita cassetes também tem seu charme. E no geral, o que resta da curta exibição é justamente o estranhamento com algumas “cenas” e com determinados “desfechos”, ausências dramáticas e imbricamentos de cada um dos personagens. O que temos é um projeto que chama atenção por não deixar claro suas veracidades, criando algumas curiosidades no público, que talvez bata a cabeça para decifrar. No fim, não importa muito, o que vale é esse breve tempo compartilhado, cada vez mais decupado, revelando suas propostas, à medida que insere os objetos da mesma na tela. É quase um ato permissivo.

Por essas razões, “Na Casa do Diretor” deve ser uma das experiências mais únicas da presente edição do CineBH, agradável ou não, engraçado ou não, as coisas que ocorrem aqui são satíricas o suficiente para levar algumas discussões sobre esse embate cultural que ocorre na tela. Talvez esteja mais no campo do dispositivo quando pensamos no que as temáticas estão propondo, mas não tira algum brilho ocasional.

4 Nota do Crítico 5 1

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