A primeira parte crítica dos curtas-metragens da Mostra Corpos Adiante
Por Vitor Velloso
A temática direcionou o olhar dos curados à um universo corpóreo específico, tanto estético quanto social e a sessão de curtas exibidas no dia 19 foi uma prova disso. Circulando entre submundos do moralismo, as obras foram dominando o público pela verve impressa na tela. Os curtas são: Lui, Quebramar, Conte isso àqueles que dizem que fomos derrotados, Noirblue – Deslocamentos de uma dança.
LUI
Dirigido por Denise Kelm, “Lui” abre a sessão rasgando o complexo de moralidade dos olhos sobre o corpo trans. Com uma estética mais flexível e impondo uma naturalização da misancene, Denise constrói uma ficção sobre um casal à margem da dita sociedade e expurga os demônios do preconceito, sem nunca esquecer os problemas da discussão. É ousada em criar uma fluidez no início da projeção que perde aos poucos com a progressão da narrativa. O filme é potente e sabe por onde caminha, mas evita se desprender de um naturalismo que acaba reduzindo o formalismo proposto a um arquétipo pouco impactante. Mas ainda assim, ocupa seu lugar na Mostra e que não foi por acaso.
QUEBRAMAR
Dirigido por Cris Lyra, o filme vai de encontro à uma questão específica, a das lésbicas. Não à toa o discurso de todas as participantes do curta envolvia esse processo. A diretora consegue criar uma misancene bastante íntima de um universo à margem da sociedade, filmando uma espécie de sociedade que possui uma liberdade rara. Possui uma estrutura cadenciada que consegue conceber belos momentos, mas que também rende pequenas barrigas, algumas falas um pouco soltas. Mas extremamente efetivo em acompanhar essa trajetória e traçar uma proximidade com as personagens. Perde o ritmo na metade, mas retorna com força em seus últimos cinco minutos. A cena do fone de ouvido é particularmente tocante.
CONTE ISSO ÀQUELES QUE DIZEM QUE FOMOS DERROTADOS
Documentário dirigido por Aiano Bemfica, Camila Bastos, Cristiano Araújo e Pedro Maia de Brito, o filme irá acompanhar parte do processo de ocupação de três locais diferentes em minas. O processo é bastante agressivo e marginal, criando uma atmosfera quase de guerra. Apenas com imagens representa a guerrilha, o medo e necessidade de todas aquelas pessoas, sem nunca julgá-los. O status de heróis urbanos é dado pela própria trajetória daquelas pessoas. Potente e formalmente complexo, a diretriz simples que é estruturada diante da tela tem tudo pra ganhar cada vez mais espaço.
NOIRBLUE
O diário e dicionário estético e social estruturado por Ana Pi é cativante. Suas danças pela África, o retorno ao seu lar e sua militância corporal realmente ganha a tela com facilidade. Possui um início intenso e que nos leva a lugares inimagináveis, acaba perdendo o ritmo quando se aproxima da metade mas torna a ganhar força próximo ao final. Sua fala antes da projeção foi visceral e com uma representatividade de se aplaudir.
A sessão foi bastante necessária e todos mereciam estar em seus lugares.