Curta Paranagua 2024

A Missão do Gerente de Recursos Humanos


Ficha Técnica

Direção: Eran Riklis
Roteiro: Noah Stollman, baseado na obra de Abraham B. Jehoshua
Elenco: Mark Ivanir, Gila Almagor, Reymond Amsalem, Noah Silver, Julian Negulesco, Rosina Kambus
Fotografia: Rainer Klausmann
Música: Cyril Morin
Direção de arte: Yoel Herzberg e Dan Toader (desenho de produção)
Figurino: Li Alembik e Adina Bucur
Edição: Tova Asher
Produção: Tudor Giurgiu, Thanassis Karathanos, Talia Kleinhendler, Haim Mecklberg, Elie Meirovitz, Estee Yacov-Mecklberg
Distribuidora: Imovison
Estúdio: 2-Team Productions | EZ Films | Pallas Film | Pie Films
Duração: 103 minutos
País: Israel/ França/ Alemanha
Ano: 2010
COTAÇÃO: MUITO BOM

Apresentando a Sessão

A sessão aconteceu no Estação SESC Espaço, às 21 horas, num domingo. O filme participou duma première especial da Casa de Cultura Judaica. O produtor disse que a baixa temperatura do Rio de Janeiro não chegava aos pés do frio (menos 20 graus) que tinha sentido quando filmou na Romênia. Todos riram. Quanto a distribuição, é um sistema de intercâmbio. “A verba da Romênia ajudou”, ele disse. Quanto à escolha do ator, “Fizemos casting com 200 pessoas. O menino (Noah Silver) é francês, mas aprendeu o romeno em duas semanas. Considerado o novo Alain Delon”. E continua “Sentir culpa pode ajudar. O filme não é sobre a morte. É uma jornada mórbida que permite que o personagem volte à vida. A culpa o leva a vida novamente”.

A opinião

“A Missão do Gerente dos Recursos Humanos” baseia-se no livro “Uma Mulher em Jerusalém”, de Abraham B. Jehoshua. O tema aborda ética, capitalismo, devoção e profissionalismo. O ator Mark Ivanir interpreta o protagonista que se desdobra para que possa realizar uma missão no seu emprego, uma grande padaria em Israel. Os seus valores sociais (com o intuito de deitar a cabeça no travesseiro e conseguir dormir) transpassam a política (burocrata) da empresa e a de um jornalista (hipócrita) que deseja a todo custo conseguir uma exclusiva difamando essa padaria. A trama apresenta o ano de 2002. Uma fábrica grande, porém qualquer, comete um erro documental. Descobre-se que o “jeitinho” de outro ocasionou o problema. A “vítima” trabalhava na limpeza geral. “Ela limpava a merda que ninguém queria”, diz-se. Esse erro ingênuo e por amor é vazado à mídia, que ávida por qualquer informação (de preferência catastrófica e pessimista) aumenta toda a história.

O diretor Eran Riklis (do excelente “Lemon Tree”) escolhe questionamentos básicos do ser humano. Um deles é o sentimento de sentir estar em casa. Ser de algum lugar. Para seus personagens, a busca pela raiz, terra natal, é um requisito primordial à felicidade. Na verdade, a moral da história é o auto-conhecimento, que usa uma história alheia para que possa ser despertado. Há revistas policiais, simulações, atentados, a esposa que não volta, a filha ausente. O gerente possui problemas cotidianos como qualquer outro. Mas abdica de sua vida para estar integralmente no emprego. A narrativa busca os detalhes, com uma edição ágil sem correr e ângulos de camera comuns. Este último serve como metáfora cinematográfica ao que realmente o filme se propõe. Há tipos, que não são julgados, mas retratados como definitivos.

Uma das melhores cenas do longa é sem dúvidas a do necrotério quando mostra o funcionário que se apega aos mortos. É um misto de suspense, susto, humor sem fazer graça. São unidos timing, perspicácia e nenhum clichê. O protagonista coloca na balança os seus próprios princípios. O roteiro transpassa sinestesia. O espectador enraivece-se com o repórter sensacionalista. Mas sente pena do mesmo ao perceber as fragilidades e defesas de sobrevivência. Uma das mensagens que são tratadas é que o individuo não vale um centavo. Todos têm falhas e todos são hipócritas. A figura de bode expiatório explica a necessidade de maiores explicações a fim de direcionar a investigação a outro canto. Uma das consequências desta profissão é a pressão diária que acarreta.

“Aqui não é o ocidente, nem o oriente”, diz-se ao perceber o suborno. O filho expulso de casa, a mãe falecida, o padrasto violento e sem paciência, tudo é usado a fim de definir o porquê das ações de cada um dos personagens. Em certo momento, o longa-metragem torna-se Road movie. A cada instante fica mas interessante. Aprofunda existencialismos. “Ele não gosta de pão com mentiras”, exaspera-se com utopia sem sentido, para logo depois comer o mesmo pão. Percebemos que a trajetória de levar uma mulher a sua terra esbarra em leis, regras, condutas subjetivas. Ora municipal, ora a aceitação de outro que não tem nada a ver com a história. “Ela não se importa”, diz-se sobre a morta. Uma única dívida (uma missão) gera situações surreais e aflitivas.

Esses absurdos da perda do controle sobre a totalidade, por incrível que pareça, gera a descoberta do Gerente sobre sua vida e sobre quem é de verdade. Fazer o certo. Mesmo que não se entenda. O tempo exato das ações, adicionado com a sinceridade e a cumplicidade dos diálogos, indica que ainda existem valores intrínsecos (sem a motivação da convenção social). O Gerente foi ao fim do mundo por trabalho levando alguém ao lugar que ele achava que ela pertencia. Lá chegando, descobriu que a transformação maior era ele. E assim retornou, com a certeza de que o lugar dela é da própria escolha. Concluindo, é um filme que busca as vertentes da identidade. Vale muito a pena assistir. Recomendo. Ganhou em 2010 os prêmios de Melhor Filme, Melhor Diretor – Eran Riklis, Melhor Atriz Coadjuvante – Rosina Kambus, Melhor Roteiro, Melhor Som, Melhor Atriz Coadjuvante – Rosina Kambus na Academia de Cinema de Israel. No mesmo ano, foi indicado ao ASIA PACIFIC SCREEN AWARDS por Melhor Ator – Mark Ivanir.

O Diretor

Eran Riklis nasceu no dia 2 de outubro de 1954. É um cineasta israelense. Eran estudou cinema na Beaconsfield National Film School, na Inglaterra e tornou-se famoso pelos filmes “A Noiva Síria” e “Lemon Tree”. Em 1984, Riklis dirigiu seu primeiro filme “on a clear day you can see Damascus”, um thriller político baseado em fatos reais. Em 1991 filmou “Cup Final”, filme aclamado pela crítica internacional e selecionado para diversos festivais, dentre os quais o Festival de Berlin e o Festival de Veneza.Em 1993 filmou “Zohar”, com grande sucesso de publico em Israel. Em 1999 filmou “Vulcano Junction”, uma homenagem do diretor ao Rock n Roll. Em 2004, Riklis chamou a atenção da crítica internacional com seu “The Syrian Bride” ( A noiva Síria) e em 2008 filmou “Lemon Tree”.

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