Curta Paranagua 2024

Minha Mãe é uma Peça 3

Saturação da fórmula

Por Pedro Guedes

Minha Mãe é uma Peça 3

A Dona Hermínia é, sem dúvida alguma, um dos maiores fenômenos que ocorreram nos últimos anos em termos de comédias brasileiras. Produzido pela mesma Globo Filmes responsável pelos filmes estrelados por Leandro Hassum ou Ingrid Guimarães, o primeiro “Minha Mãe é uma Peça”, lançado em 2013, se apresentava como um exemplar… digamos, melhorzinho do gênero ao qual pertence – o que, convenhamos, não quer dizer muita coisa, já que seus concorrentes (“De Pernas pro Ar”, “Até Que a Sorte Nos Separe”, “S.O.S: Mulheres ao Mar”) são simplesmente constrangedores. Assim, claro que o sucesso daquele filme protagonizado por Paulo Gustavo inevitavelmente geraria uma continuação, lançada no final de 2016. E, agora, a trilogia chega ao fim com “Minha Mãe é uma Peça 3”.

Não sei por que, mas a primeira coisa que me veio à mente escrevendo a última frase foi a cena pós-créditos de “Zumbilândia 2: Atire Duas Vezes”, na qual Bill Murray (que havia feito uma ponta memorável no primeiro filme) aparece promovendo um fictício “Garfield 3” e dizendo ironicamente que a intenção por trás do projeto era completar uma trilogia tão memorável quanto “O Poderoso Chefão”. E pensar nisso ao escrever sobre “Minha Mãe é uma Peça 3” não é um bom sinal.

Novamente escrito por Paulo Gustavo, o roteiro volta a se concentrar na famosa Dona Hermínia, que, preservando a mesma personalidade rabugenta e grosseirona de sempre, agora é obrigada a encarar um grande desafio: testemunhar o casamento de seu filho Juliano e se preparar para virar avó da filha de Marcelina. Assim, Hermínia percebe que está entrando em uma nova fase, tendo que deixar seus filhos viverem suas próprias vidas e se acostumar à ideia de que eles não são seus, mas do mundo. Ao mesmo tempo, seu ex-marido, Carlos Alberto, resolve se mudar para o apartamento do lado, criando novos e maiores conflitos com ela. E… é basicamente isso – eu estou realmente tentando buscar alguma informação narrativa a mais para poder completar este parágrafo, mas juro que não encontro absolutamente nada.

Conferindo um tratamento tolo a um roteiro que já era preguiçoso por natureza, a diretora Susana Garcia cumpre a função de “mão de obra encomendada” que é costumeira em um projeto como este – afinal, estamos falando sobre um filme que, em essência, serve basicamente como um palco para que Paulo Gustavo faça sua performance enquanto os demais atores se posicionam como meras muletas para o astro principal. Assim, Garcia nem tenta conferir uma personalidade própria ao projeto, buscando, em vez disso, seguir exatamente os mesmos passos dados por André Pellenz e César Rodrigues nos capítulos anteriores e limitando-se a retratar o roteiro de forma meramente ilustrativa. De todo modo, a mediocridade dos momentos cômicos não se compara à artificialidade das passagens mais dramáticas, que se apresentam como esforços melosos sempre acompanhados de perto pela trilha sonora exageradíssima que faz questão de “mastigar” ao máximo cada sensação que Garcia quer que o espectador tenha ao longo da projeção.

Ainda assim, o aspecto mais irritante de “Minha Mãe é uma Peça 3” é sua insistência em se dizer apoiador da causa LGBTQ, mas se acovardar ao retratar a homossexualidade de Juliano da maneira mais conservadora possível, não apenas se recusando a mostrar o beijo que obviamente aconteceu entre ele e seu noivo durante a cerimônia de casamento, mas também evitando enfocar com frequência a relação entre o casal. Em outras palavras: é o típico filme que adora se auto-congratular por incluir dois personagens gays na narrativa, mas ainda assim prefere não mostrar muito deles a fim de não “ofender” à parcela dos espectadores que tenham algum problema com isso. Para piorar, logo no primeiro ato, Dona Hermínia faz uma piadinha que escancara todas as intenções que o longa como um todo tenta esconder atrás de um véu de suposto progressismo: “O Juliano eu já sei que não vai ter filho porque, né? (Ele é gay.)” – como se filhos adotivos de casais homoafetivos fossem “menos filhos” do que aqueles biológicos tidos por um casal hétero.

Tentando fazer o espectador rir umas cinco vezes por minuto através de piadinhas sempre baseadas em uma única premissa – o mau humor de Dona Hermínia –, “Minha Mãe é uma Peça 3″ falha consistentemente em 95% de seus esforços, provocando no máximo um risinho de canto de boca que dura um milésimo de segundo graças a uma ou outra resmungada desferida pela protagonista. Aliás, a falta de educação de Dona Hermínia é uma coisa que passa a irritar a partir de certo momento, já que suas frequentes manifestações de desprezo em relação aos outros indivíduos ao seu redor soam incômodas em vez de divertidas. E é sintomático que uma personagem de caráter questionável como esta seja tão admirada pelo público – o que não creio que seja muito diferente da vontade de bajular um chefe grosseirão que leva figuras como Silvio Santos a se tornarem tão idolatradas, por exemplo.

 

2 Nota do Crítico 5 1

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