O pessoal impessoal
Por Pedro Guedes
Em teoria, “Minha Lua de Mel Polonesa” é uma obra tematicamente ambiciosa e que parece ter um valor particular para a diretora/roteirista Élise Otzenberger, responsável por realizá-la; na prática, porém, é mais uma comédia francesa bobinha e esquecível que, de vez em quando, até consegue arrancar uma ou outra risada. Assim, o que deveria soar como um projeto íntimo e afetivo acaba se tornando genérico, impessoal e irregular, o que é uma pena ainda que o filme, de modo geral, divirta moderadamente. Em outras palavras: é difícil escrever sobre um longa como este, pois é tão… inexpressivo que acaba não gerando muitas impressões.
Já sugerindo uma carga íntima e particular logo em sua sequência de abertura, quando a câmera vai passeando por várias fotos de família provavelmente tiradas há muitos e muitos anos, “Minha Lua de Mel Polonesa” gira em torno de Anna e Adam, dois franceses de origem judaica que acabam de ter um bebê. Assim, o avô de Adam convida o casal para uma celebração em sua casa, no interior da Polônia, o que inspira os dois a viajarem de uma maneira diferente do que supunham no início: em vez de tratarem o trajeto como um simples trajeto, eles decidem aproveitar o caminho até o destino para conhecer melhor a história de seus antepassados, visitando pontos na Polônia que dizem muito sobre as origens tanto de Anna quanto de Adam.
Em seus momentos mais inspirados, “Minha Lua de Mel Polonesa” consegue divertir o espectador e, principalmente, surpreendê-lo com tiradas que funcionam justamente por serem espontâneas – e a mãe de Anna, em especial, se destaca nesse sentido, roubando praticamente todas as cenas das quais participa. (Não que haja qualquer tipo de genialidade na personagem, apenas… está um degrau acima da média contida no filme como um todo.) Assim, a cineasta Élise Otzenberger consegue envolver a narrativa em uma atmosfera suficientemente simpática, leve e divertida, levando o espectador a se importar com os dramas vividos pelos personagens e a se sentir entretido com o que está sendo mostrado na tela.
Em contrapartida, para um filme que diz pregar o respeito e a harmonia entre pessoas que vieram de diferentes origens, “Minha Lua de Mel Polonesa” ainda assim perde tempo com uma série de piadinhas autodepreciativas que riem de judeus e de costumes judaicos, revelando-se meio perdido em relação às suas intenções (afinal, o foco está em celebrar a diversidade étnica/cultural ou em reforçar estereótipos tipicamente motivados pelo eurocentrismo?). Além disso, Otzenberger falha em estabelecer um equilíbrio entre a comédia e o drama: em uma cena, os protagonistas estão trocando alfinetadas entre si; na cena seguinte, porém, ambos podem estar chorando e questionando seu lugar no mundo – e este tipo de indecisão faz o filme soar instável, carecendo de coesão ao saltar entre momentos de humor e momentos dramaticamente carregados.
Se somarmos isso ao fato de Anna ser sempre retratada como uma mulher histérica, explosiva e emocionalmente impulsiva, “Minha Lua de Mel Polonesa” torna-se ainda mais ultrapassado, como se aspirasse a uma visão de mundo esclarecida, mas seguisse carregando uma essência retrógrada dentro de si. Por outro lado, as duas atuações centrais conseguem segurar o filme de maneira razoável – não estamos falando de gênios que merecem indicações a todos os prêmios do mundo, de fato, mas… são performances dignas de nota: Judith Chemla é bem-sucedida ao conferir humanidade, peso dramático e sentimento de urgência a Anna, ao passo que Arthur Igual se sai igualmente bem (desculpe, mas eu não pude resistir) ao transformar Adam em um contraponto para sua cônjuge, exibindo uma ranzinzice que, embora óbvia, cumpre bem a sua função e ajuda a estabelecer uma personalidade própria para o personagem.
Dirigido por Otzenberger de maneira ocasionalmente maçante (mesmo durando apenas 88 minutos, a projeção se arrasta como se durasse mais – e isso nunca é um bom sinal), “Minha Lua de Mel Polonesa” poderia ser um belo estudo de personagem e, ao mesmo tempo, uma representação cultural absolutamente admirável; em vez disso, no entanto, trata-se de uma comédia irregular, narrativamente simplória e esteticamente descartável. É, em suma, um exemplo perfeito de filme “nhé” (com o perdão da informalidade): não atrai, não repele, não incomoda, não entusiasma, não fica na memória… É uma experiência que causa um sorrisinho ou outro, mas que não se sustenta por muito tempo. Nhé!