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Lost Girls – Os Crimes de Long Island

Algoritmo Original Netflix

Por Daniel Guimarães

Netflix

Lost Girls – Os Crimes de Long Island

A invasão da narrativa de séries de TV em produções cinematográficas é notória. A Netflix em particular, com o objetivo de prender o espectador em seu serviço o maior tempo possível, tenta emular em seus filmes os ganchos e os cortes no clímax, famosos nos seriados. Na maioria dos casos a estética não convence em formato de longa-metragem, como é o caso de “Lost Girls – Os Crimes de Long Island”. A produtora e principal plataforma de streaming parece determinada a criar material para encher o catálogo o mais rápido possível e, nesse e em muitos casos, lançam conteúdo que soa como feito às pressas em cima do primeiro roteiro que apareça.

O longa, dirigido por Liz Garbus (“What Happened, Miss Simone?”), se baseia na história real do misterioso assassinato de garotas de programa em Long Island. Nisso, somos conduzidos por Mari Gilbert (Amy Ryan) que, após o desaparecimento de sua filha, precisa lidar com o descaso policial na investigação. É perceptível a recorrência desse mote em suspenses ou thrillers. O indivíduo civil que busca a verdade a todo custo enquanto a polícia negligencia e desdenha do caso. Entretanto, a partir disso, pode-se partir para infinitos lados. É o que faz “Lost Girls – Os Crimes de Long Island”, joga para todos os lados possíveis. E não define nenhum.

Dentro da estética de seriado, o espaço e o tempo da mise-en-scène se perdem completamente. Em um momento a distância percorrida pela protagonista é importante. Em outro, cortes seguidos mudam o local e momento da personagem de forma alucinada e conveniente. A passagem de tempo sequer é sentida, mesmo quando colocado na tela que um ano se passou. Isso porque o filme opta por uma narrativa absolutamente acelerada, cortando de ambientes, situações e temas de forma frenética. Aos 15 minutos de filme, avançou-se tanto que parece estar no fim do primeiro ato. No fim do primeiro ato, parece estar no clímax. Com isso, o filme nunca se formaliza enquanto desenvolvimento. Os irmãos Safdie (“Jóias Brutas”, “Bom Comportamento”) trabalham em cima do frenético e da adrenalina para contar suas histórias e elaborarem as temáticas que desejam. Entretanto, o próprio estilo transforma-se em tema pela sua própria disciplina em estrutura, câmera, trilha e montagem. A claustrofobia vira parte integral dos filmes. Aqui, não há qualquer esforço nesse sentido. O senso de urgência é artificial, supondo que uma atuação nervosa, gritante e corrida aliada a cortes narrativos serão suficientes.

Durante o desenvolvimento de “Lost Girls – Os Crimes de Long Island”, começa-se a ficar claro o objetivo de inserir subtextos que somente conseguem beirar o óbvio. Dentre eles, há o da emancipação feminina e o discurso contra o “mundo dos homens”, além do questionamento de classe e trabalhadores que com todo esforço sequer conseguem criar seus filhos. Isso dentro de um drama sentimental familiar e um suspense investigativo. Para inseri-los, usa-se de exposição verbalizada banal e nunca imageticamente firme, o que acentua o fato de nenhum desses temas se encontrarem como definidores. O filme sequer sabe em qual ambiente se encontra e acaba por atirar para todos os lados.

As atuações assumiram a difícil tarefa de agravar e colocar peso na narrativa que não se sustenta enquanto estrutura e direção. Assim, todos atuam acima do ponto. O detetive, dentro de uma polícia aparentemente corrupta, é cheio de dúvidas. Isso torna-se acentuado, com expressões pensativas e sofridas em toda situação. Já o policial malvado vai ser extremamente malvado, a filha acuada vai falar extremamente baixo e com a expressão “caída”. A garota de programa é de certa forma um ícone da “liberdade”, fala o que bem entende e parece independente, apesar de carregar uma culpa. Os arquétipos são extremamente enfatizados por uma direção de atores que entende uma necessidade de compensação dramática, que não funciona nesse excesso em um filme que não acompanha essa estética.

O filme também opta por uma alternância ocasional com o documental, trazendo arquivo de programas de televisão ou de rádio sobre o caso em sua época. Esses, são usados majoritariamente como atributos, novamente, de exposição. A narrativa que ocorre pela encenação é pausada para o arquivo explicar o próximo passo do que está acontecendo. “Lost Girls – Os Crimes de Long Island”, em seu terceiro ato, utiliza de recursos que verdadeiramente irritam ao aparecerem na tela. A impressão final é a de um fetichismo mal realizado em cima da morbidez, com o objetivo de trazer, nos minutos finais, a revolta e o sentimental que não foi capaz de realizar em sua narrativa.

1 Nota do Crítico 5 1

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