Lora
O sustento e as conjugações
Por Vitor Velloso
Mostra de Cinema de Gostoso 2021
“Lora” é uma mulher gigante, uma brasileira que vive na precariedade, viu o que não queria, viveu o que ninguém deveria ter vivido… É uma mulher de força inigualável e admirável que protagoniza o documentário de Mari Moraga.
A abordagem do projeto vai pro campo do registro mais padronizado pela representação cotidiana. Vemos Lora caminhar pelo centro de São Paulo, com planos de câmera na mão que a acompanha diretamente, entrevistas e histórias que nos aproxima de seu rosto, em plano fixo e uma montagem que apenas tenta organizar os planos para que o didatismo seja ditado pela oralidade. Aqui, as falas vão norteando os planos de apoio (brevemente excessivos) em um ritmo que não encontra a dinâmica que é perseguida pela maior parte do tempo de projeção.
O sentimento é de uma obra com um material riquíssimo mas com algumas escolhas na estrutura que bagunça um pouco os processos. De qualquer forma, nada disso compromete o projeto, apenas o deixa mais lento e menos articulado do que imaginava inicialmente. “Lora” é uma brasileira, entre a força e a fé, que busca sustento para si e outras famílias a partir da própria ideia da precariedade, que ela rebate com vigor e firmeza.
Sua liberdade é um ponto para discutir o que seria a palavra em sentido pleno. O canto de trabalho é o motor de um Brasil distinto das grandes telas. O estado do calor.