Learning to Skateboard in a Warzone (If You’re a Girl)
Caravana da Coragem
Por Jorge Cruz
Podemos observar que houve uma certa preguiça no momento de indicar certas obras aos prêmios do Oscar 2020. Na categoria melhor documentário em curta-metragem, por exemplo, já não bastasse o equivocado “A Vida em Mim“, que explora o sofrimento de crianças para abordar um assunto de óbvio interesse, não há em “Learning to Skateboard in a Warzone (If You’re a Girl)” nenhuma tentativa de construção de obra diferente do que, como vem ocorrendo com frequência, uma simples reportagem.
Distribuída pela televisão a cabo dos Estados Unidos pela A&E, a produção se junta aos filmes disponíveis na Netflix como uma aparente tentativa da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de angariar adeptos à cerimônia adicionando obras com maior facilidade de acesso. Em 2019 essa tática funcionou e “Absorvendo o Tabu” saiu vencedor na categoria. Apesar de “Lifeboat“, seu concorrente à época, ser superior não apenas na técnica, mas na formatação dificultada pelo risco iminente de acompanhar botes de refugiados, aquela produção do mesmo serviço de streaming era bem mais propostiva do que essa aqui.
“Learning to Skateboard in a Warzone (If You’re a Girl)” conquista o espectador com facilidade ao tratar da coragem de todas aquelas mulheres (e meninas) ali expostas. Vende bem a ideia e conceitua esse adjetivo tão subjetivo ao colocar na boca daquelas crianças o quanto elas conquistam um pouco mais a cada dia em que vão à escola aprender a ler e a escrever. A partir daí trata diretamente do ensino da prática de skate nas escolas. Sempre a partir de depoimentos e algumas sequências de simulação do cotidiano, fica nítido o quanto as personagens têm vilipendiadas direitos básicos – o principal deles a liberdade.
A diretora Carol Dysinger, de poucos trabalhos no cinema, evita o conflito quando ele é inerente. Há uma aceitação ao ensino desse esporte para mulheres afegãs e há motivos para isso. Por outro lado, o preconceito (nem tão) velado dos homens é pouco remexido. Sob a desculpa de que elas podem se machucar, na verdade há um medo pelo ganho de poder. Com essa prática, que mistura saúde, interação social e competição, é possível de alguma forma motivar aquelas meninas a valorizar o estudo mais tradicional.
Todavia, é tão expositivo e tão óbvio os caminhos que “Learning to Skateboard in a Warzone (If You’re a Girl)” segue que parece estarmos sempre diante de um produto adequado para a televisão. Mesmo sem explorar o exotismo e a abordagem etnocêntrica de documentários recentes como “Indústria Americana” (provável vencedor do Oscar como longa-metragem – esse em menor escala) e “One Child Nation” (esse em larguíssima escala), são poucos os momentos em que há força na obra. Em um deles, bem perto do final, uma menina nos lembra que naquele momento, sem dúvida, acontecia algum ataque suicida “por aí”. Essa consciência precoce faria com que o curta-metragem de Dysinger rendesse muito mais. Todavia, ele optou pelo confortável caminho da curiosidade de seu público-alvo.