Hotel Atlântico

A opinião

“Abra o coração” foi a primeira coisa que a ator Julio Andrade disse a mim. “Cinema não se faz sozinho”, disse a diretora para uma platéia lotada no cinema Odeon. O filme começa com a música conduzindo o caminho. A camera é impaciente e espera algo. Devaneios de um ator desocupado acostumado com a intimidade das pessoas num quarto de hotel sujo e marginal. A espera continua. Por algo que não se sabe, fazendo do seguir um épico de autoconhecimento e necessidade. De enxergar o outro, não estereotipando, mas sim o humanizando. Permitindo que as caractéristicas pessoais de cada um sejam preservadas e não julgadas. O roteiro é natural, com diálogos que não parecem encenados. É realista. A jornada de cada um conhecendo personagens da própria vida. Certo momento diz-se: “Se tem vontade, tem o caminho”. A trajetória passa por tipos de gente. Depressivos, chatos, autoritários, calados, loucos, religiosos, prestativos. A sincronia entre os atores e o texto existe. E a poesia também. Simples e detalhista. Assim vamos vivenciando vidas como um road movie com conteúdo. As pessoas encontradas perdem-se pelo tempo como momentos em hotéis pelas águas do mar que vêm e vão. O filme tece quadro a quadro de forma artesanal as idiossincrasias, os anseios e as limitações do ser humano. Posso dizer que o meu coração está aberto. Atento aos pequenos detalhes que tudo e todos exalam. A imaginação acontece, brincando de hipóteses, mas vivenciar o próprio viver é outra história.

Ficha Técnica

Direção: Suzana Amaral
Roteiro: Suzana Amaral
Elenco: Júlio Andrade, João Miguel, Mariana Ximenes, Gero Camilo, Luís Guilherme, André Frateschi, Jiddu Pinheiro, Lorena Lobato
Fotografia: Jose Roberto Eliezer, ABC
Montagem: Idê Lacreta
Música: Luiz Henrique Xavier
País: Brasil
Ano: 2009

A Sinopse

Um ator desempregado embarca numa viagem sem destino, um voo cego sem instrumentos. Durante a jornada, se depara com situações absurdas, contraditórias e inesperadas, sem relações de causa e efeito. Encontra pessoas bizarras, amores suspeitos e quase a morte. Sempre no fio da navalha, a realidade é apresentada como uma farsa e o absurdo da vida se instala, com eventos ocorrendo inesperadamente, muitas vezes sem explicações lógicas. Eles se desdobram fragmentados, desconectados entre si, culminando num final inesperado e instigante. Baseado no livro de João Gilberto Noll.

A Diretora

Suzana Amaral começou a carreira aos 37 anos no final da década de sessenta quando, já mãe de nove filhos e quase avó, prestou vestibular para o curso de cinema na Escola de Comunicação e Arte da USP. Concluído a graduação, cursou pós-graduação em direção em Nova Iorque.

Já filmou mais de cinqüenta documentários de curta-metragens para o extinto programa Câmara Aberta da TV Cultura. Em 1979 foi premiada no Festival de Brasília com o curta Minha Vida, Nossa Luta (melhor filme), obra que serviu de pano de fundo e inspiração para a luta pelas creches da periferia de São Paulo. Em 1986 seu filme A hora da estrela, baseado na obra de Clarice Lispector, ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival de Berlim para sua protagonista, a atriz Marcélia Cartaxo.
Seu mais recente trabalho foi em Uma vida em segredo, em 2001.

Nasceu em Pasárgada, em 1932. Seu primeiro longa-metragem A Hora da Estrela (1985), obteve mais de 25 prêmios em festivais pelo mundo, entre eles o Urso de Prata de Melhor Atriz no Festival de Berlim e 12 prêmios no Festival de Brasília. Em 2000, dirigiu o longa Uma Vida em Segredo. Este é o seu terceiro longa, cuja estréia mundial foi no Festival de Toronto na categoria “Masters”.

Filmografia

2001 – Uma vida em segredo — direção e roteiro
1996 – O regresso do homem que não gostava de sair de casa — interpretação
1992 – Procura-se (minissérie) — direção
1985 – A hora da estrela — direção e roteiro

O Ator

Júlio Andrade.

[Trabalhos na TV]
2008 – Ciranda de Pedra
2007 – Amazônia, de Galvez a Chico Mendes
2006 – Carga Pesada
2002 – Orangotangos
2001 – Contos de Inverno
2000 – Vidas Prestadas
1999 – Luna Caliente
[No Cinema]
2007 – 3 Efes
2007 – Cão Sem Dono
2006 – Batismo de Sangue
2005 – Sal de Prata
2004 – Meu Tio Matou um Cara
2003 – O Homem que Copiava
2000 – Tolerância (como entregador de pizza)

Pix Vertentes do Cinema

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