Giochi
Jogos e aparências
Por Vitor Velloso
Durante o Festival de Locarno 2021
Simone Bozzelli já possui uma carreira consolidada nos curta-metragens e acumula prêmios ao longo dos anos, “J’ador” (2020) e “Amateur” (2019) são apenas dois exemplos. Seu novo projeto, “Giochi” possui uma estranheza esquemática imediata que é comum nas outras obras do cineasta. Onde as cenas funcionam como um gatilho para uma proposição que se intensifica com a unidade. A estética é a representação das relações através dos jogos internos, tanto na mãe que finge ser um animal para se aproximar do filho, como no rapaz que quer descobrir o que há no presente.
Existe uma certa urgência efervescente na dinâmica do curta, uma iminência trágica que aprisiona seus personagens a um ciclo de repressões externas e internas. A violência é uma manifestação de suas fragilidades e incompreensões. Onde a câmera não sossega, há um perigo à espreita, pronto para acertar o espectador com as crueldades prosaicas das relações familiares e amorosas. Um jogo doentio de agressões e carinhos que reflete os egos, medos e desejos como uma eutanasia moral. É possível se chocar com algumas atitudes durante o drama, já que o retorno ao ponto primordial de suas questões é o calvário de suas vontades. “Giochi” é direcionado para sacralizar o todo através de seus recortes, dos fragmentos que vão se montando e criando o sentido da narrativa. Apesar de pouco inventivo, a síntese das amarras dramáticas remontam um velho teatro de aparências, onde não vence quem é mais forte, mas quem é capaz de suportar as incongruências.
Na nota do que abusos formalizam, os menos de 20 minutos são econômicos na montagem, que dinamizam um frenesi perturbador do enclausuramento de origens materiais distintas, que tende ao primitivismo de uma instituição que busca a harmonia, ainda que as chagas visíveis provoquem reações inesperadas. É um processo consciente de seus pontos de ação e a normatividade dogmática cai por terra na grande parábola de uma cultura que segmenta a própria imagem.