Curta Paranagua 2024

Ford vs Ferrari

A individualidade de Le Mans

Por Vitor Velloso

Ford vs Ferrari

Já cotado para a temporada de premiações, “Ford vs Ferrari” chega aos cinemas brasileiros com uma expectativa moderada, com a curiosidade de ser um projeto dirigido por James Mangold (“Logan” e “Os Indomáveis”) e com duas estrelas no elenco, Matt Damon e Christian Bale.

O longa vai contar a história da rivalidade entre a Ford e a Ferrari, em busca do título da 24 horas de Le Mans durante a década de 60. A narrativa busca acompanhar o processo dessa batalha mercadológica que foi levada às pistas, por ego e por dinheiro. O filme é eficiente em estruturar as etapas de todo o progresso da empresa norte-americana à competição com a lendária Ferrari. Assim, o foco se mantém majoritariamente na Ford.

Sem grandes complicações na dramatização da história, Mangold se detém a realizar um produto que mantém um didatismo com suas explicações mais técnicas, um certo interesse histórico pelo objeto automobilístico e pela natureza passional dessas corridas. Logo, não há recursos mirabolantes quanto a forma, pelo contrário, a decupagem detém um modelo clássico ainda que busque um apuro plástico distinto em determinados planos.

Sem ceder facilmente à montagem hiper-veloz do entretenimento contemporâneo, “Ford vs Ferrari” incorpora pequenas características de projetos de época em sua linguagem, seja por uma fidelidade com o material ou mesmo por um distanciamento da narrativa com questões contemporâneas, afinal o deslocamento temporal e temático é compreensível, aliás trata-se de um corte bastante específico de um momento único das corridas.

E essa delimitação que a obra constrói, é parte de uma construção que não se torna um ode às corridas, ou seja, os fãs de automobilismo podem vir a se frustrar com o filme, pois o mesmo não gasta a maior parte de sua projeção em exibir as corridas como um espetáculo pictórico para ser exibido em tela grande. O diretor sintetiza as cenas com os carros de maneira a contribuir na proposição que inicia, explorando a velocidade dos carros e a intensidade do momento com questões dramáticas acima da estética.

Conforme a projeção se aproxima do fim, é possível notarmos a maior dedicação para essa exploração visual da corrida em si, tal como a apelação por questões emocionais. E essa disposição para um apelo industrial e mercadológico do filme, permite uma queda brusca no ritmo e uma maior quantidade de diálogos expositivos. Essa breve entrega ao padrão norte-americano de se realizar cinema e de um mercado predatório entre empresas acaba se tornando parte do eixo narrativo do longa.

Ainda que haja foco nessa disputa, a centralização drástica nos aspectos individuais da corrida em si, vira mote dramatúrgico primário no texto, determinando sem medo uma cobrança na postura diante da montagem, que acaba criando dois pólos bem definidos, corredor e o agente da burocracia. Mesmo de maneira bilateral, “Ford vs Ferrari” não cria uma distância tão bruta entre os dois, buscando uma união ainda que de caráter pessoal, entre os dois personagens, que se torna claro no clímax, com um artifício clichê e funcional da amizade e da prova acima de qualquer conquista (isso não é um spoiler).

Diferentemente dessa unidade entre os protagonistas, há uma breve separação nas partes técnicas do projeto, a fotografia se esforça em compor quadros memoráveis a partir da iluminação contraposta e a direção se esforça em filtrar tudo em uma versatilidade do natural, mas o som acaba atravessando a obra com destaque. Não à toa, essa predileção do marketing em expôr uma necessidade de experienciar tudo em uma sala IMAX, lembrando da capacidade técnica do filme etc. Sem dúvida a experiência é diferenciada, mas há uma distância clara entre a imagem em si e o som, pois nada é extremamente estilizado, enquanto o design sonoro rasga a sala de cinema por completo.

E essa pequena unilateralidade do som, torna as cenas mais frenéticas com os carros verdadeiras acrobacias de como instigar o espectador a sentir parte daquela paixão por aquele universo. E ainda que James Mangold não possua esse sentimento próximo do automobilismo, transmite muito bem essa frequência ativa do esporte, esse perigo constante dominado por uma beleza sedutora da adrenalina.

“Ford vs Ferrari” é um vigoroso entretenimento, bastante acima de média Hollywoodiana, mas não consegue se distanciar dos padrões quando o texto se aproxima do fim, ainda assim, mostra que o diretor possui um futuro particular na indústria.

 

3 Nota do Crítico 5 1

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