Foi um Tempo de Poesia
Consciência de classe entre o mar e o sertão
Por Vitor Velloso
CineOP 2021
“Foi um tempo de poesia” de Petrus Cariry é uma obra de afeto e saudade entre um afilhado e seu padrinho. O padrinho em questão é Patativa do Assaré. O registro de Super-8, inédito, é resgatado e traz o poeta em momentos particulares, contando seu pensamento, vida e luta para a objetiva. A figura “Patativa do Assaré” é mais que o suficiente para segurar um espectador diante da tela, mas Petrus consegue uma montagem que entrelaça suas falas e as imagens, como uma mostra da dialética que regia sua obra.
Como o diretor afirma durante a projeção: “Sua consciência de classe era assustadora, sabia que, para afirmar os direitos do povo, era preciso quebrar uma certa ordem. Ele tinha plena consciência de que a elite econômica poderia resultar em atraso e na manutenção de um sistema de exploração.”
Veja bem, a crítica materialista está além de uma forma discursiva de citação (como as Universidades, objeto fundamental para a manutenção da dominação burguesa). Patativa fala da fome, da seca e do subdesenvolvimento
“…Só canto a pobreza do meu mundo pequenino. Eu não sei cantar as glórias, também não canto as vitórias dos heróis com seu ‘brasão’. Nem o mar com suas águas. Só sei cantar minhas mágoas e as mágoas do meu irmão…”
A dialética presente no subdesenvolvido é sobreviver do meio que te consome.
Petrus Cariry consegue em “Foi um tempo de poesia” uma síntese do homem que seu padrinho era, e em especial, o que Patativa significou para ele. Essa saudade que fica nas memórias, é a do Brasil que seus versos tentavam curar e denunciar. Um ciclo de mar e sertão, contrapostos no documentário, na visão de Patativa e em seu retorno ao sertão. O diretor repleto de afetos, projetou na tela, um dos Brasis, que já foi poesia. Hoje, segue na memória.