A terceira parte da segunda edição do Festival Ecrã
Por Vitor Velloso
Meu terceiro dia do Ecrã, foi… inusitado. Assisti a quatro filmes, todos eles muito únicos. O primeiro do dia foi “Animal Kingdom”, que escreverei à parte, pois, me impactou de uma maneira diferente dos outros. Depois assisti ao “Inside” dos diretores Vicky Lagan, Maximilian Le Cain, seguido de “Equinócio de Outono” do James Benning e por último, “Phantom Islands” do Rouzbeh Rashidi.
“Inside” busca a experimentação através das percepções sensitivas das pessoas, usando artifícios que buscam gerar uma poesia prosaica. De uma certa maneira, é uma crônica cinematográfica. Acontece que nunca fica claro o objetivo de todo este esforço, o espectador é mergulhado nesse universo de beleza desnorteante, sempre do cotidiano mas que não consegue atrair para além dessa estética envolvente. Não acredito que se trate de um exercício vulgar de experimentação estilística, mas ainda assim, gera um questionamento geral, o propósito disto tudo.
“Equinócio de Outono” é tudo aquilo que esperávamos do James Benning, não há exatamente o que se discutir sobre o filme, mas há muito o que se discutir sobre ele. É intrigante como existem adoradores devotos do James Benning e odiadores ferrenhos, esses polos só existem pela possibilidade de amá-lo ou odiá-lo. Torna-se um reacionarismo à opinião do outro. Eu particularmente, não possuo nenhum carinho pelo cineasta, assim como nenhum desprezo. Aprecio certas obras, como Pig Iron, Rain & Fire e Landscape Suicide, acho interessante “Ten Skies”, mas não consigo enxergar a pérola brilhante que alguns encaixam em “Equinócio de Outono”. Sua forma é sempre a mesma, colocar a câmera no tripé e observar, até que a imagem se esgote. É uma experimentação não formal, mas ideológica. Deixar que o filme se construa. E acho divertido como as pessoas saem da sessão criando verdadeiros roteiros narrativos pelas imagens que vêm na tela, enquanto eu só consigo contemplar a imagem pela imagem, não contextualizo ela a nada.
Ambos os exercícios são frutíferos para a discussão pós-filme, mas retorno a questão, que discussão? Os filmes de Benning não geram discussão alguma, quem o faz são os espectadores. Ainda assim, não consigo dizer que não aprecio ele como um agente do caos quanto a teoria cinematográfica., que com o advento do digital, apenas intensificou.
“Phantom Islands” encerrou o dia. Rouzbeh Rashidi, constrói, com o tempo, um longa que busca a fixação da imagem no imaginário do público, a partir da relação de um casal. Através de planos arquitetados numa esterilidade emocional. Pessoalmente, o projeto do veterano diretor, não me encantou em nenhum aspecto. Toda sua pretensão cai por água abaixo numa falta de tom crescente e em maneirismos auto-referenciais duvidosos. Ao fim de quase uma hora e meia de projeção eu me perguntava se valia a pena permanecer na sala, pois, o formalismo e as ideias dele são tão desgastadas e debatidas que vamos perdendo o interesse pela obra, ao ponto de forçarmos uma ligação teórica aquelas imagens, a fim de aproveitar alguma coisa. Mas no fim, nada disse.