Outras adversidades são regradas, como as constantes minuciosas revistas do próprio Festival, que vê em qualquer um um potencial “terrorista da comida”. É terminantemente proibido comer nas salas de cinema, e este ano, toda e qualquer barra de cereal e ou uma inocente banana viram “armas”. Sim, a repetição destas ações vai cansando o já cansado jornalista. É aparato de segurança demais de sessão à sessão (sem relaxamentos), que “alimenta” a neurose e o medo iminente de um ataque das “frutas”.
Sim, aprendemos a “mudar”, a “pagar” com a mesma ação a fim de burlar multidões, e assim nossos princípios morais são deturpados. Bem-vindo ao Primeiro Mundo globalizado! Contudo, nem tudo é perdido. Pelo contrário, Cannes é uma experiência enriquecedora e culturalmente incrível. Como olhar ao redor, observar, reparar nas entrelinhas e nos típicos comportamentos reais (quando ninguém está olhando) das pessoas. Por exemplo, os funcionários da área da limpeza, que esvaziam os lixos e recolhem os sacos com a “obrigatória” comida e bebida deixada por seus espectadores, e quase como uma prática comum, esses lixeiros “colecionam” itens como se fosse um supermercado de graça e à céu aberto. Em uma das cenas, um deles tirou maças, lavou-as com água com gás deixada no próprio lixo e guardou em uma caixa para consumo próprio (e para dividir os “achados” com seus companheiros de trabalho). Em outra, comiam barras de cereal com o restante de um suco concentrado em uma caixa. É exatamente isso que faz o festival acontecer. Olhares particulares e únicos captados da multidão em surto cinéfilo, enlouquecida e demasiadamente fora de suas regras de educação social. Salve-se quem puder!
E para finalizar esta primeira parte é inevitável o cansaço. Dormir pouco, processos sistemáticos, ter que estar com a inspiração a todo vapor. Sim, faço o que posso e o que o Festival de Cannes permite (com algumas perdas que fazem parte de qualquer cobertura jornalística-crítica). Até agora, está tudo lindo! “So Far, So Good”! E olha que ainda não chegou Xavier Dolan, Kleber Mendonça Filho, Eryk Rocha e outros queridos.