Fest Aruanda 2020 no Ar: abertura, conversas e filmes
Festival paraibano documenta os debates da décima quinta edição
Por Fabricio Duque
O ditado popular diz que tudo que é mais difícil é também mais gostoso. Essa sabedoria popular ganha embasamento na psicanálise, visto que nosso cérebro valoriza o que se é “suado”. Em tempos pandêmicos, a realidade do agora nos mostra uma expansão. Um modelo possível de acessar conteúdos audiovisuais. O Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro manteve a peleja com resistência e amor ao cinema, especialmente o paraibano, fomentado com garra, dedicação, “apontando com fé” em “todas as melodias” e “swinguando” pelo trabalho hercúleo de seus realizadores.
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O Fest Aruanda também foi visionário, adaptando-se ao novo formato virtual desde os primórdios da Quarentena. Há cinco meses acontece as Lives de Cinema, entre conversas sobre nossa sétima arte. A jornalista crítica da Revista de Cinema, Maria do Rosário Caetano, iniciou a jornada, seguida de Susanna Lira, Mayana Neiva, Bárbara Paz, Caco Ciocler, Zezita de Matos, Walter Carvalho, Vladimir Carvalho, Fernando Teixeira, Evaldo Mocarzel, Jean-Claude Bernadet, João Carlos Beltrão, Fernando Morais, entre tantos outros convidados e temas.
A edição debutante dos 15 anos não só complementou a visão do público com os debates online, como também permitiu democratizar o acesso e estreitar geografias. Ainda que o Fest Aruanda 2020 aconteça de forma híbrida, com abertura, encerramento e apresentações protocolares no espaço presencia e oficial, o mundo pode conferir sem restrições tudo o que aconteceu (com seus arquivos gravados e disponibilizado na página do Youtube do próprio festival) e o que está para acontecer. Com um volume de informações que alimentará nosso audiovisual por aulas e anos. “A vida é feita de coragem”, estampada em uma das camisas de Ricardo, pode e deve ser o lema deste ano, com ou sem “conexões de fone” e sinais internetescos.
A abertura do 15º Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro, o maior festival de cinema da Paraíba, aconteceu dia 10/12, uma data mais especial. Em sessão presencial e seguindo todos os protocolos de segurança, com capacidade reduzida de público, o evento reuniu cerca de 50 pessoas do meio cultural no Cinépolis Manaíra para celebrar a edição especial de 15 anos.
O diretor executivo do evento, Lúcio Vilar, iniciou a solenidade emocionado e grato em ter a oportunidade de realizar o festival em um ano difícil e atípico. “Apesar deste 2020 delicado que vivemos, estamos aqui vivos. Mesmo com este cenário de pandemia, é um momento de comemoração dos 15 anos do Fest Aruanda, pelos 60 anos do filme ‘Aruanda’ e 90 anos do seu criador Linduarte Noronha, se estivesse vivo”, celebrou.
Esteve presente na abertura o diretor presidente da Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa), Marcus Vinícius, que representou o governador da Paraíba, João Azevêdo. Ele afirmou que associar a Cagepa ao festival é um reconhecimento da empresa e do Governo do Estado pelo esforço e compromisso com a cultura. “Um povo sem cultura é um povo sem história. Gostaria de destacar a ousadia do paraibano e a resiliência de fazer um evento com maestria e competência, seguindo todos os protocolos de segurança, e ressaltar a importância deste momento de valorização da nossa cultura e da nossa terra”, comentou Marcus.
Um dos destaques desta edição é a parceria com a Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, de Portugal. O projeto terá a oportunidade de aumentar e melhorar a circulação de objetos culturais entre Portugal e Brasil. Por vídeo, Felipe Roque do Valle, professor do Departamento de Cinema e Arte dos Média, enfatizou a participação dos trabalhos de alta qualidade dos seus alunos no festival. “Nós estamos muito gratos com esta parceria, que incentiva a produção de filmes e conecta os dois países em um só objetivo. São sete curtas-metragens de ficção que representam um trabalho brilhante ao longo de mais de uma década”, contou Felipe.
Personalidades que fizeram história no cinema receberam um reconhecimento por toda contribuição. O jornalista, escritor e membro da Academia Paraibana de Letras Wills Leal (in memoriam) e o cineasta Linduarte Noronha, diretor do filme ‘Aruanda’, que deu nome ao festival, foram alguns dos homenageados da noite.
Outro homenageado foi José Maria Lopes, que esteve presente na cerimônia de abertura e recebeu o troféu Aruanda pela contribuição na defesa da preservação e memória audiovisual brasileira. Em vídeo, a gerente do acervo da Brasil de Comunicação, Maria Carnavalle, falou do privilégio que foi conhecer e fazer parte da vida de José Maria. “Ele é um homem com 50 anos dedicados a lutar pela preservação do audiovisual no Brasil, e isso é extremamente raro. Ele é um mestre completo, conjuga experiência profissional e generosidade em compartilhar conhecimento”, celebrou. A experiência, carinho e cuidado do profissional é de se admirar. A atriz e diretora Carla Camurati, também em vídeo, destacou o trabalho de preservação da memória do cinema feito pelo homenageado. “Conheci muitos diretores, muitos atores e produtores, mas poucos com a dedicação de José Maria. O cinema é muito grato pelo trabalho dele”, destacou a atriz.
O 15º Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro continua até dia 16/12 (e com retrospectiva dos vencedores no dia 17/12) com mais debates e mesas de conversas. “O que a gente faz é para tela grande”, diz o realizador Roberto Berliner, de “Os Quatro Paralamas”, filme de abertura. “Memórias borradas é o que fica para cada um”, complementa o mediador Amilton Pinheiro. Outros debates marcaram o festival e já nasceram clássicos, por exemplo, o “A permanência de Aruanda – 60 anos depois – na história do cinema brasileiro” com o cineasta Jorge Bodanzky; o documentarista Vladimir Carvalho e mediado por Maria do Rosário Caetano. O produtor Luiz Carlos Barreto (Barretão) justificou sua ausência por causa de problemas na voz.
O debate sobre as motivações do curta-metragem “Aruanda” (1960, ASSISTA AQUI), “O naipe de Aruanda”, na “famosa sessão na Bienal de São Paulo, pela Paulo Emílio”, o Vladimir Carvalho foi assistente de direção e que escreveu o argumento do roteiro “palimpsesto”. “Um choque produtivo com a fotografia áspera, chapada e anti-canônica. Pré-história de degustação vindo de Rio 40 Graus e do Cineclube de João Pessoa, mantido pelos padres, viés do esteticismo. Linduarte foi para mim um fraterno orientador”, disse o paraibano, mostra o roteiro original e lê alguns planos com o primeiro título “Talhado, a Cidadela do Barro”. “Era um cinema-documentário. A imagem é que contou a história do filme. Arrepiado por um Brasil que eu não conhecia. Eu adoraria poder fazer esse cinema”, complementa Jorge Bodanzky.
O outro imperdível é “Cinema Negro e o racismo estrutural no Brasil” com Joyce Prado (Cineasta), Kalyne Almeida (Cineasta) e Carine Fiúza (Cineasta e mestranda em Comunicação). Mediação de Maria do Rosário Caetano. E “Festivais Audiovisuais Paraibanos em 2021: espaços de difusão, distribuição e preservação”, com Diretores dos Festivais/Mostras, selecionados pelo Edital Cagepa de fomento aos eventos audiovisuais no interior da Paraíba e mediação da Produtora audiovisual Ana Célia Gomes.