No final nos resta a palavra
Por Vitor Velloso
Durante a Mostra CineOP 2019
Edgard Navarro, homenageado da 14a Mostra de Ouro Preto, viu seu filme de 1978 exibido no Cine Vila Rica durante a abertura da edição. Em poucos comentários, falou como o filme representava parte da mentalidade militar operante na época de sua realização.
Ao ver o curta, fica bastante clara a analogia direta entre a virilidade destes militares e a questão fálica-bélica que envolve seu processo de criação para este projeto. A partir de seu estilo irreverente, anárquico e libertino, o cineasta traça um desenho pontual de período, que tem um retorno fantasmagórico em 2019, onde a necessidade de Eros, a guia de Thanatos e uma necessidade potente e latente de subversão, fundou uma significação diferente do próprio fazer cinematográfico e de ser artista. Onde a idéia de subversão nada mais é que a concretização de uma liberdade gritante que vai de encontro aos valores da tradição luso-genocida.
Seu registro consegue em apenas 7 minutos, dar a tônica que funcionaria parte das produções de curtas daquele período e da carreira do próprio Navarro, sempre buscando a montagem e a imagem a partir de um frenesi misancênico, que desrespeita convenções e padrões que não são puramente honestos. A estética não é um inimigo como já fora, o processo burguês de se realizar imagens já não era um guia sintético do que aquele baiano pretendia, sua verve era caoticamente realizada de peito, uma intensa e encantadora vontade de se manifestar, em um momento onde a individualidade era um aliado do fascismo e um inimigo do próprio indivíduo, era forçosa a uniformização da sociedade.
Navarro sintetiza de maneira brilhante não apenas essas idéias que acabam surgindo de um espectro propriamente pessoal, mas irá atingir o político, como realiza isso demonstrando parte de seu espírito criador em submeter sua narrativa à própria ideia de produção viva, não à toa o nome do filme é “Exposed”, aquilo que aparece ao terminarmos um rolo de Super 8. Assume a volatilidade da arte em sua própria forma e dá ao Brasil uma mostra do que havia por dentro daquela vulgaridade e intelectualidade sem precedentes. Que viva à nudez, que viva Navarro!