Cobertura Mesa de Debates
Estados do Cinema Latino-Americano no CineBH 2024
Por Vitor Velloso
Na 18a Edição da CineBH, o cinema latino-americano volta a ser pauta central no debate do evento, como ocorre desde 2022. A ampliação da perspectiva, junto ao evento de mercado do cinema brasileiro, o Brasil CineMundi, auxilia a questionar como o cinema latino-americano se projeta e é visto no mercado internacional. A temática da atual edição, “Estados do Cinema Latino-Americano” debate o estado do cinema latino-americano e os Estados. No texto de Cleber Eduardo, presente no catálogo da Mostra, o curador reflete a circulação e regulação do cinema latino-americano, tanto em sua dependência ao Estado quanto sua identidade dentro de um contexto histórico, social, econômico, político, racial e de gênero, recusando o idealismo, quando não moralismo, de uma perspectiva dos estetas metafísicos, não por acaso o nome da Mostra Competitiva já salienta um “espaço determinante”, a Mostra Território. Como afirma o curador, “há fases de luto e de luta, de celebração e de confronto”, é dessa “inevitável contestação” que nasce a temática.
O ciclo de debates promovido pela CineBH e Brasil CineMundi, procurou seguir esses questionamentos e apontamentos da temática, visando debater o papel do Estado no audiovisual, as diferentes perspectivas da dependência do audiovisual com o Estado e o papel das políticas públicas nas transformações do audiovisual latino-americano. Entre contextos e pretextos, a maior parte dos debates procurava entender e exemplificar a importância da continuidade das políticas públicas, a política de formação e como a sociedade civil pode participar nas políticas públicas.
Em um contexto de profundas transformações, seja no campo político ou por avanços tecnológicos, é visível que há uma mudança de hábitos de consumo e uma “crescente demanda por conteúdos diversos e representativos” torna-se ainda mais necessário debater a entender o papel das políticas públicas para o setor, especialmente sua continuidade. Essa foi a tônica do debate inaugural, com o tema: Políticas Públicas, Transformações e Oportunidade no Audiovisual Brasileiro”.
No mesmo dia, aconteceu o debate “Estados do Cinema Latino-Americano: As Mulheres no Comando”, debatendo a “presença feminina nos postos de comando das realizações” e foram levantados dados de diversos países latino-americanos, no debate esteve presente Ana Carolina Soares, diretora de Ausente, Anna Muylaert, cineasta homenageada, Laura Basombrio, diretora de Las Almas (Argentina), Laura Danoso, diretora de Sariri (Chile), Sol Infante Zamudio, diretora de Mala Reputación (Uruguai), criando uma mesa diversa e que dividiu experiências distintas no contexto da produção e circulação audiovisual latino-americana contemporânea, além de refletir sobre as mudanças contextuais de tempos
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Esse tipo de ciclo de debates é interessante não apenas para compreender as diferentes formas de inserção e projeção de mercado de cada país, mas também para demonstrar as identidades de cada país latino-americano, suas formas de representação, estéticas e sociais, como reforço de uma particularidade. Ou seja, o reforço da identidade enquanto diferença, ainda que compreendendo as possibilidades de se debater o conceito de território através de diferentes perspectivas, além da necessidade de união do cinema latino-americano para sobrevivência e reafirmação dentro de um contexto internacional. Não por acaso, o debate “Estado dos Cinema Latino-Americano: O Estado e suas ações”, procurou debater uma característica estruturante comum aos mercados latino-americanos: “a dependência de leis, regulações e fundos públicos para viabilizar filmes, festivais, coleta de dados e toda a cadeia produtiva do setor”, que contou com a presença de Duiren Wagua, diretor de Bila Burba (Panamá), Eugenia Campos Guevara, procura da Gentil Cine (Argentina), Gregório Rodrigues, produtora da Casa Latina Films (República Dominicana), Joana Oliveira, cineasta (Brasil), Lucas Silva, diretor de Posesión Suprema (Colômbia), Paola Castillo, diretora executiva do Conecta-CCDoc (Chile), com mediação de Ester Marçal Fér, curadora.
Em seguida, houve o debate “Mercado Audiovisual: Diversidade e Inclusão”, que destacou a importância da diversidade e inclusão nas produções audiovisuais brasileiras, questionando: “Como o mercado pode valorizar narrativas diversas e garantir que histórias de minorias tenham visibilidade e financiamento adequado? Como a diversidade no audiovisual pode atrair novos públicos e mercados? Existe uma correlação entre a inclusão e o sucesso comercial de produções? Quais são as principais barreiras enfrentadas por profissionais de grupos sub representados no acesso a oportunidades no mercado audiovisual? Como superar esses desafios?”
Já “Mercado Audiovisual: Novos Modelos de Negócio”, com a presença dos convidados: Cosimo Santoro, world sales da The Open Reel (Itália), Leonardo Ordóñez, assessor do Maff/Festival de Málaga (Espanha/Chile), Letícia Friedrich, produtora e distribuidora da Vitrine Filmes (Brasil), Meinolf Zurhorst, tutor e presidente da comissão de seleção do Luxemburg Film Fund (Alemanha/Luxemburgo), com mediação de Pedro Butcher, colaborador do Brasil CineMundi (Brasil), debateu os novos formatos de financiamento, parcerias e distribuição que estão surgindo no mercado. E como de costume, a discussão em torno da regulamentação do VOD, sua importância e os desafios do Estado.
No debate “Estados do Cinema Latino-Americano: As Coproduções e seus Desafios”, contou com a presença de Barbara Marcel, diretora e produtora de Suratas (Brasil), Ernesto Jara Vargas, diretor de Altamar (Costa Rica), Ivette Liang, chefe da cátedra de Produção do Nuevas Miradas (Cuba/Colômbia), Juan Pablo Polanco Carranza, diretor de Carro Pasajero (Colômbia), Luana Melgaço, sócia da Anavilhana e produtora de Praia Formosa (Brasil), com mediação de Paulo de Carvalho, produtor e colaborador do Brasil Cinemundi (Alemanha), foi possível conhecer um pouco de cada experiência em mercados internacionais e as impressões com coproduções. Porém, a mesa debateu um dos tópicos mais questionados nos últimos anos nos debates que aconteceram na CineBH: A internacionalização tem seu preço?
Esse tópico é fundamental para a discussão sobre coproduções e participação efetiva de uma determinada cinematografia nacional em um cenário internacional, a internacionalização, pois o aumento de coproduções e a crescente introdução de obras audiovisuais no circuito internacional tende a gerar o questionamento sobre identidade, formas de representação, dependência de mercado, a particularidade de cada cinema etc. No debate, não foi respondido de forma direta tal pergunta, mas levantaram possíveis caminhos para se pensar tal problemática, que teve princípio durante a 16a CineBH em 2022.
Já no debate “Mercado Audiovisual: Conexões Globais e Oportunidades Internacionais”, com a presença de Ana Alice de Morais, codiretora artística e programadora do RIDM & Forum RIDM (Canadá), André Araujo Virgens, coordenador geral da Secretaria Nacional de Audiovisual – Ministério da Cultura (DF), Karen Hayashi, coordenação de Indústria e Serviços e gestora do Projeto Cinema do Brasil na Apex Brasil (SP), Mauro Garcia Bravi – Programa Brazilian Content (SP), Morris Kachain, gerente executivo do Programa Cinema do Brasil – Siaesp (SP), Paulo Alcoforado, diretor da Ancine (SP), com mediação de Pedro Butcher, colaborador do Brasil CineMundi (RJ), os convidados discutiram parte da temática referenciada na atual edição ao debater alguns números do cinema brasileiro, da Ancine, da dificuldade de regulação, complexidade de negociação e as oportunidades internacionais, sejam elas via acordos com produtoras de demais países ou mesmo o papel dos streamings nesse mercado.
“Do projeto à tela” dividiu com o público as experiências individuais e coletivas de participantes do Brasil CineMundi. Contou com a presença de Clarissa Guerrilha, produtora de Levante (RJ), Gustavo Pizzi, diretor de Benzinho (RJ), Haroldo Borges, diretor de Saudade Faz Morada Aqui Dentro (BA), Renata Pinheiro (PE), Thiago Macedo Correa (MG), com a mediação de Ivan Melo, produtor e colaborador do Brasil CineMundi (SP)
O ciclo de debates em torno da temática “Estados do Cinema Latino-Americano” foi extremamente diverso e rico de provocações para pensarmos as diferentes formas de projeção e representação do cinema latino-americano em si, para si e no contexto internacional, seja em suas formas de produção e coprodução, difusão e na própria identidade. Além da grande quantidade de dados apresentados ao público, muitos questionamentos de diferentes contexto da Pátria Grande foram debatidos para explicitar que apesar das experiências não serem individuais, o contexto concreto de cada cinematografia é particular, o que torna ainda mais urgente nossa união.