Entrevistamos os criadores da série “Irmãos Freitas”

Entrevista com Walter Salles e Sergio Machado, criadores da série Irmãos Freitas

Por Vinicius Machado

No fim da tarde do último sábado (19), “Irmãos Freitas” – série que conta a trajetória de Acelino Popó Freitas e seu irmão, Luiz Claudio, teve a exibição de dois episódios no CineSesc, realizada pela 43ª Mostra Internacional de São Paulo, com a presença dos dois atletas, dos realizadores do filme, Walter Salles e Sergio Machado, além do ator que interpreta Popó, Daniel Rocha.

Após a exibição, aconteceu um debate carregado de emoções sobre a produção do filme, com direito a agradecimento e presentes à equipe do projeto.

Ao ser questionado sobre a preparação para o papel, Daniel Rocha contou algumas de suas experiências. Além de precisar perder dez quilos em um mês, ele precisou treinar boxe duas vezes por dia. “É um processo complicado, chegar num corpo de atleta não é fácil. É muita dedicação, uma dieta muito restritiva”, conta ele, que recentemente participou do filme “Sequestro Relâmpago”. “Tem uma cena em que o Popó precisava desidratar. Ele precisava perder três quilos um dia antes da pesagem. E o Sérgio (Machado) me perguntou se eu queria fazer com maquiagem ou na interpretação. E eu resolvi tentar fazer igual ao próprio Popó. Queria tentar tirar o máximo de peso de um dia pro outro. Os produtores ficaram malucos, preocupadíssimos, mas o diretor bancou e convenceu os produtores. Eu perdi 5kg em dez horas. É um processo muito difícil, mas deu certo”, completou.

Quem teve a ideia de colocar o projeto em prática foi Walter Salles, renomado diretor brasileiro, que afirma ter a intenção de contar a história dos irmãos boxeadores desde o início dos anos 2000. Em entrevista ao Vertentes do Cinema, ele descobriu a história pela televisão e matérias de jornal. “Eu vi que tanto do ponto de vista esportivo, quanto do extraordinário contexto humano, essa história merecia chegar às telas”, disse, deixando claro que a ideia inicial era realizar um longa-metragem. “Primeiro nós tentamos fazer caber numa obra cinematográfica, mas era mais amplo do que o cinema permitia. Depois percebemos que poderia ser uma série declinada em oito capítulos ou mais. Sergio mergulhou nessa possibilidade e trouxe roteiristas que continuaram esse trabalho de três ou quatro anos que tínhamos feito pro filme se tornar realidade”, conclui.

Dirigindo em parceria com Aly Muritiba – que não estava presente na cerimônia, Sérgio Machado também concedeu entrevista ao Vertentes do Cinema e revela ter tido o filme “O Vencedor”, com Christian Bale, como uma motivação para tirar o projeto do papel. “Grandes diretores filmaram filmes de boxe. Scorsese, John Huston, Hitchcock, John Ford. E eu estudei profundamente, entendendo os estilos, de como criar as coreografias”, diz o diretor de Cidade Baixa, de 2005.

Os dois primeiros episódios, muito bem produzidos, constitui uma narrativa dividida por igual entre Acelino e Luiz Claudio. Perguntado se isso se mantém pelos oito episódios, Salles diz que sim. “Se mantém durante a trajetória inteira porque assim foi na vida real.  E nesse sentido a série tem uma qualidade bastante documental. Ela foi construída a partir dos depoimentos de Popó, de Luiz e dos relatos que tínhamos de imprensa. Então foi a partir disso que os roteiros foram construídos”.

Ao mostrar o resultado para os irmãos, Machado afirma que eles se emocionaram muito. “Eles choravam o tempo inteiro. Quando acabou a sessão, Luiz não conseguia nem falar”, e ressaltou a liberdade que foi lhe dada na hora de escrever o roteiro. “O Popó não fez nenhuma restrição, me deu liberdade para fazer o que quiser. Eles foram 100% colaborativos. Primeiro nós escrevemos com vários irmãos, mas depois achamos que ficaria mais conciso suprimir e concentrar as características dos outros irmãos somente no Popó e no Luiz Claudio”.

Salles também se diz emocionado em fazer parte desse projeto. “Tem várias famílias de cinema próximas a mim nessa série. Vários atores, Vinicius de Oliveira, Caique de Jesus, outros que já participaram de outros filmes e que alguns anos depois continuaram uma aventura que é essencialmente coletiva. É assim que eu vejo o cinema, uma extraordinária aventura humana, mas uma arte essencialmente coletiva.

“Irmãos Freitas” estreia nesse domingo (20), no canal Space, mas os episódios estarão no catálogo da Amazon Prime Video duas horas após a exibição.

Irmãos Freitas
Na foto, os atores Daniel Rocha e Roberto Birindelli

Pix Vertentes do Cinema

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