Ana Rieper é documentarista e diretora de TV há cerca de 10 anos. Tem formação nas áreas de Cinema, Antropologia e Geografia. Tem caracterizado sua trajetória pela realização de filmes que buscam entender a cultura popular brasileira e a história dos costumes a partir da intimidade e da vida cotidiana. Atua também como diretora de filmes institucionais nas áreas de Meio Ambiente, Arqueologia e projetos ligados a movimentos sociais. Seu mais recente filme é Vou Rifar Meu Coração.
Ana conversou com o VERTENTES DO CINEMA por e-mail.
VERTENTES: Como surgiu a ideia para o documentário?
ANA: A ideia de fazer o filme foi se maturando durante os 4 anos em que eu vivi em Sergipe. Foi quando eu comecei a conhecer melhor a chamada música brega e a gostar muito do que eu ouvia. Percebi que essa música tinha muita força e me chamou muita atenção o fato de que nunca tinha chegado aos meus ouvidos. Nessa época eu andava muito em pequenas cidades e povoados do interior e foi se revelando para mim uma forma muito aberta com que as pessoas lidavam com seus afetos e com a sua sexualidade em um ambiente conservador, machista e patriarcal. Eu comecei a relacionar o sucesso dessas músicas que cantam as mazelas profundas dos assuntos do coração com essa cultura amorosa e daí foi se desenhando o “Vou rifar meu coração”.
VERTENTES: Você foi por esse caminho por causa de sua formação como antropóloga?
ANA: Eu vejo a formação acadêmica e profissional como algo inseparável dos caminhos da minha trajetória pessoal. A abordagem do “Vou Rifar meu Coração” tem um pouco disso tudo. Tem influência sem dúvida da minha formação em antropologia, no sentido de entender o outro a partir dos seus valores e não apenas dos meus. Mas também de um olhar para os lugares que vem da geografia, do meu gosto pela estrada e afinidade com os assuntos da intimidade.
VERTENTES: Há uma cena do filme que está marcado na árvore Fabricio e Vanessa. Risos. Qual é o lugar, especifica pra mim, por favor? Risos. Quero visitar e tirar uma foto. Risos.
ANA: Essa árvore fica no povoado Salobra, na casa que era de Iracema agente de saúde (ela não mora mais lá). Esse povoado fica no município de Simão Dias – SE. Vais andar um bocado pra tirar essa foto. rsrs
VERTENTES: Você sentiu resistência da parte dos entrevistados ou eles se entregaram pra valer?
ANA: Aqueles que estão no filme falaram de uma maneira muito aberta sem demonstrar constrangimento ou resistência alguma ao contarem suas histórias. Mas houve casos durante a pesquisa de pessoas com quem estávamos conversando, querendo incluir no filme e que desistiram de participar por não quererem se expor. Para mim foi notável a maneira muito livre com que as pessoas abriram suas histórias, muitas vezes cercadas de tabus sociais, como homossexualidade, prostituição, infidelidade, sofrimento. Admiráveis esses.
VERTENTES: Quanto tempo durou e quanto custou?
ANA: Mandei esse projeto para um edital pela primeira vez em 2003. O filme levou 1 ano e 3 meses para ser realizado, a partir do primeiro aporte de verbas em junho de 2010. O orçamento do filme foi de cerca de 750.000,00, vindo a maior parte da Petrobrás Cultural, através do edital para produção de longas digitais e um complemento do BNDES.
VERTENTES: Pensando no próximo projeto?
ANA: Tenho vários projetos em fase de desenvolvimento. No momento trabalho na adaptação do Vou Rifar meu Coração para série de TV, usando também uma parte do material bruto que não entrou no corte final do longa.
VERTENTES: Muito obrigado!