Ficha Técnica
Direção: Andrew Jarecki
Roteiro: Marcus Hinchey, Marc Smerling
Elenco: Ryan Gosling, Kirsten Dunst, Frank Langella, Lily Rabe, Michael Esper, Philip Baker Hall, Diane Venora, Nick Offerman, Kristen Wiig, Stephen Kunken
Fotografia: Michael Seresin
Música: Rob Simonsen
Direção de arte: Russell Barnes
Figurino: Michael Clancy
Edição: David Rosenbloom e Shelby Siegel
Produção: Andrew Jarecki, Michael London, Bruna Papandrea, Marc Smerling
Estúdio: Groundswell Productions
Distribuidora: Imagem Filmes
Duração: 101 minutos
País: Estados Unidos
Ano: 2010
COTAÇÃO: ENTRE O REGULAR E O BOM
A opinião
“Entre Segredos e Mentiras”, dirigido pelo estreante em um longa-metragem, Andrew Jarecki (do documentário “Na Captura dos Friedmans”, de 2003 – que conquistou 18 prêmios internacionais, entre eles o prêmio de público do Sundance Film Festival e uma indicação ao Oscar), conhecido como compositor de temas musicais da série Felicity, inspira-se no caso de desaparecimento mais famoso de Nova York, adaptando a história às telas. O próprio diretor incutiu curiosidade e expectativa ao escalar os atores mais procurados no momento Ryan Gosling (de “Namorados para sempre”, “Drive”) e Kirsten Dunst (de “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças”, “Homem-Aranha”, “Maria Antonieta”). Ele, um canadense de Ontário, firma-se como um ator em ascensão. Como curiosidade no set de filmagem, Ryan sentiu-se mal ao rodar uma cena em que era obrigado a puxar o cabelo de Kirsten. Como forma de se desculpar, ele enviou a ela um buquê de flores no dia seguinte. Ela, norte-americana de Point Pleasant, rodou o filme pouco tempo após iniciar tratamento contra a depressão. Se digressionarmos, podemos observar o seu trabalho, com extrema carga depressiva, posterior, do cineasta Lars von Trier, em “Melancolia” (mais uma possível crueldade do diretor de “Dogville”). Retornando ao filme em questão, Kirsten considerou ter tido esta “sua melhor atuação na carreira”, sendo a primeira integrante do elenco a acertar com o filme. Segundo a atriz, sua sensação ao ler o roteiro foi a mesma que Jodie Foster teve ao ler o roteiro de “Acusados”, de 1988.
A trama acontece em 1971. David Marks (Ryan Gosling) é filho de um influente empresário, Sanford Marks (Frank Langella), mas nada quer com as empresas da família. Ele conhece e posteriormente se casa com Katie Mars (Kirsten Dunst), com quem abre uma loja de produtos orgânicos em uma cidade no interior dos Estados Unidos. O problema é que David não se sustenta e ainda depende da mesada da família. Um dia, ao receber a visita do pai, David recebe uma nova proposta para trabalhar em Nova York. Desta vez acompanhada com uma ameaça velada, de que Katie pode abandoná-lo caso mantenha o atual nível de vida. Temendo perdê-la, ele aceita o emprego e ambos se mudam mais uma vez. É o início dos problemas de relacionamento entre David e Katie, já que ele passa a querer agradá-la de todas as formas, mesmo que isto o torne infeliz. A narrativa mescla passado e presente, intercalando a história, que acontece de forma real ao espectador. A transcrição do depoimento “do possível culpado”, em um julgamento criminal, serve de base para que a trama seja apresentada na plenitude contextual, não linear, com inúmeras elipses temporais. O início remete à nostalgia dos anos setenta por causa das imagens em super 8 de uma família aparentemente feliz, divirtindo-se em momentos de lazer. É um filme confuso, porque insere diferenciados gêneros, “dançando” entre a pretensão do “querer ser independente” e a ingenuidade, talvez por preguiça da direção de repetir tomadas para que a cena funcione melhor. Em hipótese alguma, questiono a atuação dos atores, fantásticos dentro do universo pretendido pelo roteiro.
Mas a quantidade de projeções do politicamente incorreto (que de tanto massificar, já se comporta de forma comum) – consertando a torneira usando smoking e meias vermelhas; um lobo como melhor amigo; a maconha; o pai importante que vai contra o filho morar com uma mulher sem dinheiro; o rancho chamado All Good Things (homônimo ao título original do filme); a personagem com camera super 8 na mão; o aborto, o efeito da cocaína; a música dance; enfim, todos estes elementos soam como clichês, sendo difícil até salvar a fotografia, também óbvia. As interpretações procuram a afetação, complementadas por uma trilha sonora de efeito. O segredo, a psicopatia, é abordado sem ritmo, perdendo o equilíbrio, devido a falta de tom. Ora correndo, ora existencial demais. Isso impede que o espectador seja absorvido pela história, beirando, então, a superficialidade. O longa-metragem ganha pontos extras, o que o salva do derradeiro fim. A raiva é trabalhada por terapia, gritando para ser aliviada. David extravasa a violência até então contida. A vítima, a esposa, sofre e tenta entender. Contudo começa a investigar o marido, desvendando os negócios ilícitos dele, com o intuito de auto-proteção da agressão conjugal. A cada momento, um ritmo é transpassado. Há manipulação de sustos, desviando o foco, que se perde, com estranheza, transformando-se em melodrama, que deseja ser inovador, mas não consegue, porque repete todo o “ineditismo” que já se registrou como carteirinha carimbada em qualquer “pseudo” filme independente. O que mais incomoda é que o roteiro acredita no próprio clichê apresentado. Concluindo, os instantes interessantes não seguram o contexto. Um longa-metragem entre o regular e o bom.
O Diretor
Nasceu em 1963, em Nova York. Formou-se em Letras na Universidade de Princeton. Estreou como diretor com o documentário Na Captura dos Friedmans (2003), que conquistou 18 prêmios internacionais, entre eles o prêmio de público do Sundance Film Festival e uma indicação ao Oscar. Produziu o documentário Catfish (2010) e dirigiu o curta Just a Clown (2004). Atua também como músico.