Direção: Jim Sheridan
Roteiro: David Benioff
Elenco: Natalie Portman, Tobey Maguire, Jake Gyllenhaal, Bailee Madison, Mare Winningham, Taylor Geare, Patrick Flueger.
Fotografia: Frederick Elmes
Trilha Sonora: Thomas Newman
Produção: Michael De Luca, Ryan Kavanaugh, Sigurjon Sighvatsson
Distribuidora: Imagem Filmes
Estúdio: Relativity Media, Michael De Luca Productions, Palomar Pictures
Ano: 2009
País: Estados Unidos
COTAÇÃO: MUITO BOM
A opinião
Com a iminência de um retorno à guerra, o capitão Sam Cahill (Tobey Maguire – ‘Tempestade de Gelo’, ‘Garotos Incríveis’, ‘Homem-Aranha 1, 2 e 3’, ‘Segredos de Berlim’, ‘Regras da Vida’ e ‘Desconstruindo Harry’) que opta por uma vida politicamente correta. Ele cria uma família comum em um cotidiano comum. Apresenta uma personalidade calma, atenciosa e amorosa. As interpretações são excelentes, com destaques para as atrizes mirins que interpretam as filhas. Uma delas lê o livro ‘Black Beauty’ (a beleza negra), fornecendo a sutileza à trama e demonstrando o descontentamento com a ida do pai.
O irmão Tommy Cahill, jovem e carismático, (Jake Gyllenhaal – ‘O Segredo de Brokeback Mountain’, ‘Donnie Darko’, ‘A prova’, ‘Zodiáco’) sai da cadeia e Sam o busca. As picardias entre eles acontecem normalmente. Mas são dois irmãos completamente diferentes. Sam é o respeitado pai de família, casado com seu amor do colégio Grace (Natalie Portman – atriz norte-americana nascida em Israel – ‘Nova Iorque, eu te amo’, ‘Closer’, ‘Um Beijo Robado’, ‘Viagem a Darjeeling’, ‘O profissional’, ‘Marte Ataca’, ‘Star Wars I e II’, ‘Todos dizem eu te amo’, ‘Cold Montain’), com quem tem duas filhas.
Esta refilmagem, do filme homônimo dinamarquês, de Susanne Bier e Anders Thomas Jensen, de 1984, transmite uma atmosfera de ações e diálogos convincentes, sinceros, realistas e não exagerados. A música é um dos personagens, porque conecta os mundo visual ao auditiva sem que o espectador preste mais atenção a um do que o outro. A música “The winter”, indicada ao Oscar 2010 e ao Globo de ouro 2010, é do grupo U2.
“Você adora atirar nos caras maus”, diz-se. E rebate-se “E quem são os caras maus?”, questiona a serventia e o objetivo da guerra. “Todos estão sob pressão”, a frase acalenta uma discussão entre pai e filho. Neste momento deixa claro a comparação competitiva que o pai despeja quando escolhe um filme para ser o melhor e o perfeito. “Você tem algum talento. Mas desiste o tempo todo. É diferente do seu irmão. Ele é frio como gelo”, o pai alfineta agressivamente o filho não escolhido.
Há uma parte experimental quando cameras de celulares, pessoas e sorrisos – de quem vive a guerra ou dela participa, embalado por uma trilha indie de esperança, são humanizadas. Os diálogos com uma ironia saudável agrada a quem assiste.
Em toda história, chega o momento do conflito aparecer, da mudança. Quando o avião é abatido, após uma missão no Afeganistão, o capitão da Marinha é dado como desaparecido. Neste momento a passagem – pode parecer para alguns clichê, mas é poética demais – intercala os dois mundos. Só por curisiosidade, repare na parte logo após o pelotão ser atingido, na cena da banheira, que está a mulher, há um infímo movimento de zoom em uma cena que precisa estar estática, é muito sútil.
Neste momento, os mensageiros (leia aqui Os Mensageiros), avisam a mulher da ‘suposta’ morte do marido. A modificação da interpretação é íncrivel.O irmão passa a tomar conta de sua família, envolvendo-se, inclusive, com sua esposa. Há a resignação da guerra. De novo. Sem o tom sensacionalista ou sentimental. Sincero e direto em suas ações e movimentos. Porém eles reavaliam o ‘conhecer’ deles e modificam as impressões de cada um por cada um. “Eu sou um tipo clichê”, diz-se.
Ele torna-se prisioneiro de guerra. Percebe que o terror psicológico e físico o impede de viver na realidade e muitos buscam a loucura para se libertar das neuroses e sequelas deixadas pelo conhecimento em batalhas cruéis. Principalmente quando precisa tomar decisões que vão de encontro às suas virtudes e crenças.
Escolhe-se o próprio individualismo pela sobrevivência de ganhar tempo para conviver um pouco mais com aqueles que realmente são importantes. A ética e as virtudes, adquiridas e massificadas, são postas a prova em um jogo quase fantasioso por apresentar-se violento e macabro.
O retorno a família é traumático. “Quero voltar. Não consigo ficar com a família. Eles não entendem. Ninguém entende”, diz. A atmosfera do longa gera a angústia, causando o sofrimento em seus personagens e nos espectadores do outro lado da tela do cinema. A filha revolta-se com a ‘percepção’ de que não é querida da família fornece um dos melhores momentos. A carga emocional está elevada para eles e para quem assiste ao filme.
O sol salva a alma dos que voltaram do terror que a guerra causa. Neste caso funciona, mas nem todo libertado ou quem vence uma guerra é vencedor. Porque todos são perdedores neste meio. Se escapa da batalha, não pode dizer o mesmo da morte social e solitária, pela punião da culpa e do choque latente. “Só os mortos viram o fim da guerra. Posso ficar vivo novamente?”, pergunta-se retoricamente.
Vale muito a pena ser visto apenas pelas interpretações mirins. Fantásticas. Soma-se as outras interpretações competentes, com um texto interessante. Acrescente os outros elementos e terá um filme muito bom. Recomendo.
Jim Sheridan (Dublin, 6 de fevereiro de 1949) é um diretor de cinema irlandês. Sendo este considerado um dos maiores diretores Europeus da atualidade. Sheridan ganhou fama mundial após o lançamento da obra-prima Meu Pé Esquerdo. Ganhou o Urso de Ouro, no Festival de Berlim, por “In the Name of the Father” (1993).
Filmografia
2005 – Get Rich or Die Tryin’
2002 – Terra de Sonhos (In America)
1997 – O Lutador (The Boxer)
1993 – Em Nome do Pai (In the Name of the Father)
1990 – Terra da Discórdia (The Field)
1989 – Meu Pé Esquerdo (My Left Foot)
Leia também o artigo: A Guerra de Cada Um
Leia a opinião do filme (serve de complemento): O Mensageiro