Ela que mora no andar de cima
O doce platônico
Por Vitor Velloso
Durante a Mostra de Tiradentes 2021
“Ela que mora no andar de cima” de Amarildo Martins é uma obra que persegue uma construção entre o humor e o drama de sua protagonista, realçando como a relação platônica “viabiliza” loucuras. Marcélia Cartaxo e Raquel Rizzo protagonizam o curta-metragem, que consegue entreter com alguns escapismos formais afim de gerar humor, mas reforçando os pontos da narrativa. A questão cômica é ditada por como o desespero da protagonista se transforma em uma autoimolação constante.
A doença que carrega consigo traz a tona um misto de ansiedade pela amada com necessidade de tomada de decisão sobre ser cobaia dos doces de sua vizinha e paixão. Não há méritos e orgulho no que ela faz, contudo a solidão ganha forma e seus impulsos não são domados pela racionalidade. E é onde a linguagem traduz isso de maneira mimética, temos uma quebra de perspectiva e direção que é contraposta à construção da fotografia, que é mais apagada no apartamento de Luiza e mais clara no de sua vizinha, Carmen.
A construção de “Ela que mora no andar de cima” não cria grandes espaços para distinções de emoções, apenas reforça determinados hábitos da produção brasileira contemporânea, mas com apoio de boas interpretações, se concretiza um projeto funcional e que entretém o espectador. Entre novas tatuagens e experiências com açúcares e desejos platônicos, o curta concebe uma comédia dramática que finda em sentimentos monumentais que assumem uma fatalidade do platônico. Sem intensificar qualquer laço com obras que pudessem suspender a realidade à todo momento, o curta cria pequenas digressões para que possamos ser inseridos nesse universo de sentimentos.