Editorial da Semana | 26 de março de 2020
Estreias e Dicas desta quinta-feira
Por Redação
Mais uma semana se passa. O lema do instante atual da espécie humana é o auto-confinamento. Para proteger o próximo e para salvar a si mesmo. Ficar em casa e livre de todo e qualquer contato social. Sim, a pandemia do novo Coronavírus mais parece um roteiro hollywoodiano sobre mais um filme apocalíptico. Uma epidemia à moda de “Contágio” em que a realidade supera a ficção e ganha caos e pânico.
A sociedade foi obrigada a rever a própria humanidade. Tudo foi obrigado a fechar e os gaiatos espirituosos de plantão já lançaram que “2020 foi cancelado”. É uma crise mundial, que afeta comércios, teatros e cinemas. Pois é, essa semana também não haverá nenhuma estreia nos cinemas. E a indústria de Hollywood já divulgou que a renda de bilheteria da semana passada foi zero.
O pandemônio social que vivemos pode também ser considerado como uma imposição do Universo. Uma forma de mostrar aos indivíduos sociais que eles precisam resgatar o ser humano de suas existências. Pois é, até a argentina Mafalda já disse que a “Sociedade está com a humanidade baixa”. E as fábulas realistas do português José Saramago assumem contornos mais que possíveis, como “Ensaio sobre a Cegueira” e “Ensaio sobre a Lucidez”.
O Coronavírus também aparece para redefinir (como uma urgente terapia de choque) o futuro do cinema. Sem salas de cinema e com todos os festivais cancelados, só resta a opção do streaming. De se assistir de casa filmes, séries, shows, concertos, espetáculos teatrais e cursos. É um novo mundo que se abre. De que daqui para frente a individualidade anti-social finalmente se torna “legal”.
Ao ler os comentários das redes sociais, cada vez nos damos conta do porquê do tédio (e do quase surto) de se estar confinado. Em uma quarentena forçada. Pensemos: em casa, com comida, internet e televisão. O que mudou na rotina? Não andar na rua, não ter engarrafamentos, descobrir quem são os apoiadores do caos…
Nós sempre divagamos muito sobre como seria o fim do mundo. E este pensamento causa medo, mas também fascínio, visto que fornece a liberdade de auto-conexão, plena e autônoma (esta aí as inúmeras obras sobre idas a Marte, por exemplo). Se o ser humano nasce sozinho, toma sozinho as decisões e morre sozinho, então precisaria realmente de um outro ser? Seria dependência e comodismo?
Netflix, Amazon, GloboPlay, Apple TV+, Now… Cada uma busca sua forma de entreter as almas solitárias “presas” em seus próprios lares. O assunto do momento é “O Poço”, uma espanhola ficção científica de distopia fabular. Mas se analisarmos o tema do momento, então perceberemos uma linha “Além da Imaginação” com “Black Mirror” (que pelas normas politicamente corretas precisa mudar para “All the Colors Mirror”).
Não um, mas uma enxurrada de semelhantes. Da nova versão na Amazon Prime de “The Twilight Zone”, com narração de Jordan Peele; com a nova e última temporada da Netflix de “The Good Place”; com a estreia da Apple TV+ de “Amazing Stories” (produção de Steven Spielberg e bem mais engessada nos dramas americanos); a série francesa da Netflix “Era uma Segunda Vez”; e a série norueguesa “Coletivo Terror”. Todos conversam e abordam os limites e éticas da moralidade humana. Sim, Fassbinder já desenhou isso muito bem em “Berlin Alexanderplatz”, com um que junguiano de sonhos duplos e falso despertar, que por sua vez é o mote de Stephen King nos livros “O Iluminado” e “Doutor Sono”, que Kubrick no primeiro substituiu pela neurose esquizofrênica das mentes “quando possuem tempo demais para pensar”.
Sim, entender que tudo está conectado e que uma coisa leva a outra e quando se viu o dia acabou, a noite chegou e o sono vem nos abraçar, é compreender que se mantermos nossa mente ativa, sobreviveremos a esta catástrofe e salvaremos a nosso próximo e a nós mesmos, nos tornando assim seres melhores e mais humanos.
EM CASA
“O POÇO“. “Existem três tipos de pessoas. As de cima, as de baixo e as que caem”. A frase expelida pelo velho Trimagasi (Zorion Eguilier) é tão óbvia quanto o “óbvio” que tanto gosta de dizer. De início somos apresentados a uma verdade absoluta. Logo, o protagonista Goreng (Ivan Massagué) acorda confuso em frente a esse homem, dentro do que parece ser um cárcere comum, mas então descobrimos ser um andar intermediário de muitos acima e milhares abaixo. O velho companheiro de cela explica com mistério o funcionamento daquele sistema bastante organizado. Em cada cela há duas pessoas que só precisam comer. Uma plataforma retangular com um banquete requintado desce do andar mais alto ao mais baixo e em cada nível fica por alguns minutos para os presos comerem, até os restos chegarem aos mais abaixo. Leia a crítica completa AQUI!
A invasão da narrativa de séries de TV em produções cinematográficas é notória. A Netflix em particular, com o objetivo de prender o espectador em seu serviço o maior tempo possível, tenta emular em seus filmes os ganchos e os cortes no clímax, famosos nos seriados. Na maioria dos casos a estética não convence em formato de longa-metragem, como é o caso de “LOST GIRLS – OS CRIMES DE LONG ISLAND”. A produtora e principal plataforma de streaming parece determinada a criar material para encher o catálogo o mais rápido possível e, nesse e em muitos casos, lançam conteúdo que soa como feito às pressas em cima do primeiro roteiro que apareça. Leia a crítica completa AQUI!
Enquanto “ELI” se preocupa em trabalhar com a profanação de determinados símbolos católicos, para que haja certa provocação simbólica com os totens arcaicos, esquece completamente de concretizar sua atmosfera dentro dessa temática ou pura e simplesmente o terror em si. Não à toa, quando a reviravolta é apresentada, além da obviedade da mesma, tudo se torna cafona e brega à primeira vista. A burocratização de toda a proposição formulaica se estrutura em um joguinho “malvadinho” de como se relaciona o Espírito Santo, o Pai e o Filho, em ode à uma necessidade de correlação com a cultura americana, que copiou do cinema uma enfática imagem que não possui nenhuma grandeza profana, pelo contrário. Leia a crítica completa AQUI!
CURTA-METRAGEM DA SEMANA
“A VEZ DE MATAR, A VEZ DE MORRER“. Ficção, Cor, DCP, 25min, Mato Grosso do Sul (BRASIL), 2016.
O homem, o orgulho, a vingança.
Direção e roteiro: Giovani Barros
Empresa Produtora: Filmes Dourados/Estúdio Giz
Produção Executiva: Matheus Peçanha, Emanueli Ribeiro
Fotografia: Flora Dias
Arte e figurino: Jerry Gilli
Maquiagem e efeitos: Débora Saad
Montagem: Alice Furtado
Edição de Som: Fábio Baldo
Elenco: Lelo Faria, Tero Queiroz, Philipe Faria, Leoncio Moura, Filipi Silveira
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Editorial da Semana | 26 de março de 2020