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Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica

Uma jornada de Olá e adeus ou outra maestria da Pixar

Por Fabricio Duque

Durante o Festival de Berlim 2020

Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica

Sim, a Pixar descobriu a forma infalível do sucesso com sua precisa combinação equilibrada de emoção-sinestesia e aventura-entretenimento. O espectador é imerso na jornada-aventura de cunho pessoal-existencial de seres “estranhos” e “bizarros” que se comportam exatamente aos humanos, com os mesmos sentimentos de amor, impulsividade, medo, invisibilidade e perdas familiares. Ainda que a animação tendencie que é um filme para crianças, são os adultos que conseguem uma “terapia cognitiva” por permitir, que observando as histórias, possam receber mensagens de auto-ajuda (de superação e altruísmo – o “bíblico” sacrifício pelo bem do próximo.

A mais recente produção da Disney-Pixar, “Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica”, exibido na Mostra Especial do Festival de Berlim 2020, automaticamente faz com que sejamos remetidos aos trabalhos ultra-realistas da artista plástica australiana Patricia Piccinini e sua exposição “Comciência”, que aconteceu no CCBB do Rio de Janeiro há alguns anos. A artista lida com nossa reação de estranhamento, ao mesmo tempo incômodo e sedutor, desencadeando uma repulsa visual diante de esquisitas criaturas fantásticas e imaginárias, deformadas e ou mutantes. E ao confrontar, consegue aflorar uma empatia ao humanizar estes seres, desestruturando a opinião já segmentada da “normalidade”.

Na animação em questão aqui, há uma repaginação dos valores familiares. A essência é a mesma, porém modernizada. Nós viajamos por infinitas referências cinematográficas, de “O Senhor dos Anéis” a “Os Croods”, passando por “Cada um na Sua Casa”, “Tá Chovendo Hambúrguer”, “Shrek” e “Abominável“. Soa como pinceladas e em hipótese alguma, uma cópia. Dirigido por Dan Scanlon (da equipe criativa da Pixar em “Divertidamente”, “Toy Story 4”, “Universidade Monstros”, por exemplo), “Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica” tem as vozes dos atores Tom Holland e Chris Pratt como os dois irmãos.

A trama avança-se no tempo evolutivo dos dias de hoje, com sua tecnologia, picardias e piadinhas inseridas de outros filmes, como “Let It Go”, do Frozen. A mãe, uma “guerreira”. O filho, um “ativista” a favor da água (que precisa “pensar no futuro”). É estruturado uma nova família de elfos (que se transportam à “civilização”) após a morte do marido: o padrasto Centauro entra em cena e “bagunça tudo”.

Todos os detalhes do roteiro de Dan Scanlon, Jason Headley e Keith Bunin apontam opções: o caderno Novo Eu com a caneta Bic quatro cores categoriza o “ser igual ao pai”. As personagens personificadas são reconfiguradas com mais verdade nos olhar. O longa-metragem é sobre as dificuldades de ser um adolescente: a vergonha desistente, a impossibilidade da soltura social e a eterna sensação de invisibilidade. E com o “presente” da magia, nós espectadores somos “voados” à referência do bruxinho Harry Potter e do “minha casa”, “E.T. – O Extraterrestre”, de Steven Spielberg. Com fadas “esquentadinhas” e motoqueiras, ressignificando Sininho de Peter Pan. E unicórnios selvagens.

Nosso protagonista Ian Lightfoot sente a falta do pai, tanto que conversa com “ele” por fitas gravadas com as mesmas perguntas e respostas, usando o moletom “herdado”. Entre mundos mágicos e feitiços (“para conseguir, falar com o coração com paixão”), seu ídolo pode retornar à vida por um dia. Mas, por um descuido, criando-se outra metáfora: a necessidade de se reaprender a comunicação entre eles, com a explícita paródia de “Um Morto Muito Louco” (1989), de Ted Kotcheff. E/ou ao “Querida, Encolhi as Crianças”. Sim, um filme é divertida crítica do que o mundo está se tornando, como lugares assombrados e perigosos que se “gentrificam” em parque em diversões (com um que de “Hotel Transilvânia”).

Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica” é uma desventura atrás de outra aventura. Que explode o caos a fim de consertar os medos da própria vida. “Você nunca está pronto. Faça agora!”, ensina-se. É um filme para acreditar que tudo é possível, em que pontes o salvarão das quedas. Até mesmo quebrar regras com a polícia. Cria-se o arco emocional do medo à confiança. Transpassa-se o bloqueio motivado pela perda, semeando no agora o futuro com todas as peças nos seus devidos lugares.

“A história é inspirada no meu próprio relacionamento com meu irmão e pai, que morreu quando eu tinha cerca de um ano de idade. Ele sempre permaneceu um mistério para nós. Um parente nos enviou uma gravação de som dizendo exatamente duas coisas: ‘Olá’ e ‘Adeus’. Para meu irmão e eu, essas palavras eram pura magia ”, finaliza o diretor Dan Scanlon.

4 Nota do Crítico 5 1

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