Dente Por Dente
Silêncios abandonados
Por Philippe Torres
Durante o Festival do Rio 2014
“De olho por olho e dente por dente o mundo acabará cego e sem dentes”. O diretor sul-coreano Kim Ki-Duk, após “Pietá“, volta a investir na vingança para trazer sua nova história. O tema vem sendo recorrente no cinema do país, parecendo, inclusive, fazer parte da trilogia do diretor conterrâneo: Chan Wook Park. Depois do assassinato de uma jovem estudante, os sete envolvidos no crime são, um a um, sequestrados e torturados por um homem que diz estar fazendo por justiça. O primeiro desses homens investiga o caso movido pelo mesmo sentimento, a vingança. Assim, em “Dente Por Dente”, o diretor consegue construir um roteiro incomum para o cinema mundial, porém, bastante familiar aos que conhecem sua obra.
A trama não se constrói a partir de pontos de virada bem estabelecidos, não há uma linearidade, seu filme advém de uma composição cíclica (de “Primavera, Verão, Outono, Inverno e… Primavera”; “Time – O Amor contra a passagem do tempo”, e outros já haviam usado essa lógica). O ciclo, porém, não está apenas na história do personagem principal, está em cada um dos personagens e no pensamento de totalidade. A ideia do justiceiro, que se vinga, dente por dente, onde ciclo nunca terá fim. Sempre haverá uma nova vingança. Há também um questionamento curioso. Parecendo ter saído dos livros de Hannah Arendt, contesta-se a culpabilidade naquele que segue ordens, o qual não estará fora do circulo, justamente por sentir estar sendo injustiçado. O figurino é um ponto bastante interessante ao pensar na filosofia que o filme tenta transmitir.
Uma figura militarizada, porém, pertencente ao ambiente banal, uma relação senso comum ao pensamento arbitrário, do discurso de ódio. Contudo, ao adotar a “caça” a cada um dos sete assassinos, “Dente Por Dente” torna-se cansativa e de certa forma repetitiva. Apesar de haver peso nos ciclos de cada um dos assassinos, a necessidade da existência de todos eles não se fazia necessária. Corte de personagens poderia resolver o problema. Conhecido como “cineasta do silêncio” e por sua poeticidade (até mesmo em Moebius, visceral) a nova película de Kim Ki-Duk abandona o silêncio, aliás, aposta além da conta nos diálogos, perdendo a força poética dos grandes filmes de sua carreira. Apesar dos erros, o longa-metragem representa um tema indispensável, recorrente que, de forma brilhante, é apresentado em forma de roteiro.