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Vermelha

 

Vermelha

Muito Caos Para Pouca Coerência

Por Vitor Velloso

Durante a Mostra de Cinema de Tiradentes 2019

A anarquismo narrativo é algo já frequente no cinema, além disso, ganhou eloquência e reverberação com diversos diretores famosos que passaram por este estilo. Esta questão da quebra de narrativa em diversos pedaços que parecem desconectados, mas se unem por determinados pontos específicos, além dos atores. A ideia é ser o mais desestruturado possível, não por acaso durante o debate e pequenas rodas de conversa informais, o diretor Getúlio Ribeiro deixou claro que não existe um conceito por trás da obra, apenas uma simples vontade de criar esse fluxo de absurdos e incoerências.

Dar uma sinopse sobre “Vermelha” é um exercício doloroso. A melhor síntese possível é compreender o filme como uma experiência anormal. E deste adjetivo se retira o que achar melhor. Nitidamente trata-se de uma decupagem mais crua que o padrão, tratando-se de fato de aleatoriedade. Os debates acerca do longa de Getúlio são de origem subjetiva, o famoso “gosto, não gosto”, ainda que a discussão deva ir a outros lugares, o projeto não facilita essa comunicação. Goiânia veio com força nessa 22ª Mostra de Tiradentes, com películas que desafiam e confrontam o espectador. Deste ponto de vista, a película de Getúlio tem o trunfo de manter-se sob diversos debates por ser anárquico e este possivelmente é o único elogio possível. Alguns o classificou “engraçado”, quando no fim, rir durante a projeção de “Vermelha” é….peculiar.

Não apenas o humor se destaca por ser nonsense, como as piadas que são desenvolvidas funcionam parcialmente pelo excesso de repetições. Esse jogo entre o espectador e o artista é um pacto que deve ser selado desde os primeiros minutos, que neste caso não funciona, não que a misancene (escrita assim por influência de Glauber Rocha) dele neste trecho inicial seja criativa, mas promove um amadorismo aliado de uma comédia bastante específica, pelo jogo de palavras e o regionalismo. A consequência dessa encenação criada neste primeiro momento é um forte comprometimento com a composição, o carisma dos atores e os diálogos, mas essa construção não se mantém durante o resto da projeção, o que à priori não é um problema, já que o cerne é ser fragmentado e anárquico. O próprio diretor comenta que o filme poderia ser montado em qualquer ordem.

O problema dessa escolha é que o ritmo, o tom e toda a complexidade que a obra poderia ter, fica a esmo. E me parece algo muito pouco convincente dizer que seu longa é confuso, porque ele é completamente solto, pois, quantos exemplos poderíamos citar de obras com essa teoria? “Idade da Terra” do Glauber, “Passion” do Godard e assim vai. Mas não saber em que mínimo direcionamento se está levando o projeto…? Você acaba levando ele à um limbo de falta de estrutura e consistência que agrava diversos problemas que já teria normalmente. Exemplo, nitidamente, dinheiro era algo escasso durante o processo de produção e com essa falta de planejamento nos planos e em toda a estrutura “narrativa”, todas essas questões saltam os olhos.

E particularmente, sou adepto da quebra da estrutura clássica e dessa fragmentação do filme, mas “Vermelha” é uma das poucas situações onde esses gatilhos não me atingiram, pelo contrário, me afastaram cada vez mais da projeção, perdendo o completo interesse. Um erro estritamente pessoal? Posso garantir que não, mas sem dúvida o caráter seletivo ao longa em questão é dado pela subjetividade, logo, divide opiniões.

Mas ao mesmo tempo que levanto esses argumentos para dizer que não me atingiu de modo algum, sou obrigado a reconhecer o sucesso em outras pessoas. Dessa maneira, a reverberação por dias de todas aquelas imagens são um mérito indescritível. E assim, sou obrigado a afirmar que as pessoas falam da película do Getúlio, bem ou mal. E apenas a polêmica que não foi levantada pela equipe mas que sabemos existir do “experimental” versus narrativa clássica, já justifica por si só sua existência.

2 Nota do Crítico 5 1

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