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Crítica: Uma Aventura Lego 2

Muitos poréns

Por Vitor Velloso


Nunca é fácil escrever sobre algo que gosta de maneira imensurável. Particularmente, eu tenho um apreço tão profundo por “Uma Aventura LEGO” que me recusaria a escrever uma crítica sobre. Lembro que quando assisti pela primeira vez, por indicação de um amigo, chorei de rir. Ainda que eu reconheça alguns problemas do filme, faço vista grossa, pois fã é fã. Agora em 2019, após uma sucessão de mediocridades a franquia retorna à base e lança a segunda parte do sucesso de 2014.

Não mais dirigido por Chris Miller e Phil Lord, apenas roteirizado, “Uma aventura LEGO 2” é comandado por Mike Mitchell e Trisha Gum, que procura dar um novo tom à narrativa. Algumas questões centrais mudaram, primeiramente, há um tom mais maduro neste longa, que bem utilizado poderia gerar diversas resoluções interessantes, mas não é o caso. Em segundo lugar, existe uma certa ousadia em pequenos momentos em questões de estética e linguagem, que funcionam bem. Porém, uma mudança incomoda, o espírito canastrão não acompanha a trama. E essa era o maior trunfo do original, ser sacana com a própria estrutura, bagunçar a mitologia da maneira como bem entendia simplesmente para gerar humor e dar continuidade a história. No segundo, vemos uma tentativa de dramatizar a história, complexar alguns personagens e aumentar arcos de maneira ostensiva, a fim de obter uma resposta imediata dos adultos. A questão é que se o espírito antes era caçoar dos adultos e fazer as pazes construindo piadas que apenas eles entendiam, mas sempre visando as crianças em seu entretenimento semi-descerebrado, aqui parece estar se despedindo do ar infantil e abraçando uma adolescência aborrecida.

Esse pseudo-amadurecimento não apenas atrapalha o ritmo da obra mas também deixa diversos ares de comicidade serem puxados à uma dramaticidade inexistente. Algumas tentativas de lição à criançada acerca do futuro são superficiais e comprometem gravemente o interesse do espectador durante a projeção. Ainda que algumas decisões sejam curiosas, exemplo, pôr detalhes dos personagens com pequenos desgastes, a sacada com o personagem do Chris Pratt e o encerramento de seu arco, a nostalgia parece falar mais alto, mas trabalhada de uma maneira que não assume a responsabilidade por determinadas escolhas, se escorando sempre no filme anterior. Isso acaba gerando uma piada ou outra genuinamente engraçada, já que possui essa carga passada, porém, não foge à estrutura criada em 2014. Até as soluções dramáticas são próximas, com exceção do trabalho dado à fantasia, que recebe contornos melosos.

As mudanças deveriam acontecer, mas da forma como foram implementadas as expectativas que são criadas pelo próprio roteiro não sustentam a experiência, além disso o receio de se distanciar da essência criou um cordão umbilical que deveria ser cortado para algumas resoluções funcionarem, mas no fim esse projeto parece não sair da sombra do que foi o antecessor. Essa indecisão de onde direcionar os esforços fica nítida na própria caracterização do Batman, aparentemente, os recursos foram todos utilizados no primeiro e no longa solo do personagem, mas como ele sempre foi referência, há um esforço, justo, para mantê-lo na linha principal só que de maneira genérica e descaracteriza a própria figura de 5 anos atrás.

Mike Mitchell já possui um currículo testado, “Shrek Para Sempre” e “Trolls”…. Bom, a carreira diz alguma coisa sobre seu trabalho aqui, ainda que tenha feito seu melhor filme. Já Trisha Gum, marca sua estréia na direção.

Mas também não só de erros vive o filme, há um senso de movimento renovado na ação existente. Mesmo que possua aproximação com o gênero propriamente dito e menos personalidade que o primeiro, essa tentativa é válida. Existe um momento onde os personagens atravessam um portal que há uma explosão de cores e um formalismo breve, direto na animação, é aplicado, gerando uma experiência divertidíssima, ainda que não tão ousada quanto “Aranha-verso”. Algumas piadas que irão utilizar expressões e memes mais recentes, utilizando a carga cômica do anterior para gerar essas risadas, são engraçadas de fato.

Porém, no fim, a falta de coragem reina. Sem saber aonde ir, o filme fica no meio do caminho, tanto para o espectador quanto, possivelmente, nos números. Não é genuinamente ruim em nada, mas tá longe de ser acima da média em qualquer outra.

PS: A música dos créditos finais é brilhante.

3 Nota do Crítico 5 1

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