Curta Paranagua 2024

Crítica: Tudo Que Quero

Um reconforto medroso

Por Gabriel Silveira


“Tudo que quero” é um drama dirigido por Ben Lewin (diretor de The Sessions) onde Dakota Fanning protagoniza vestindo a pele de Wendy, uma jovem diagnosticada com autismo que vive em uma casa de apoio em São Francisco liderada complacentemente pela supervisora Scottie, interpretada por Toni Collete (Little Miss Sunshine). Wendy passou a morar na casa de apoio a partir do momento em que sua irmã mais velha Audrey (Alice Eve de Star Trek: Into the Darkness) encontrou-se incapacitada de manejar sua vida pessoal com as necessidades de sua irmã durante o início de sua vida materna, não permitindo que Wendy conhecesse sua própria sobrinha, por conta de um pavor imenso perante aos colapsos psíquicos daquela. Wendy é uma aficionada por Star Trek, a série é uma bíblia de onde a mesma lê toda sua filosofia existencial. Seu grande sonho é ter seu roteiro para um longa-metragem da propriedade intelectual escolhido como vencedor em um concurso aberto ao grande público pela Paramount Pictures. Os planos de Wendy dão errado, os correios não abrem na data limite da entrega. Ela resolve ir à Los Angeles entregar uma cópia física de seu roteiro pessoalmente no estúdio, mesmo que nunca houvesse cruzado sozinha a avenida principal de São Francisco.

Em meio a sua odisséia hollywoodiana, Wendy passa por todos os apertos possíveis; é furtada por um casal de aproveitadores de incapazes, sofre um acidente de ônibus, encontra anjos da guarda, dorme na rua, mas, ainda sim, supera todos os obstáculos e limitações, tendo êxito em seu objetivo principal. De quebra, reconcilia-se com sua irmã, conhecendo, por fim, sua sobrinha querida ao provar-se capaz de tomar conta de si em meio de todo o caos. O take final é o de um adorável companheiro canino da protagonista que bate em sua porta ao som de uma canção folk oriunda da psique de algum milleninal. Tudo que quero é fofo.

Querido leitor, peço um imenso perdão por explanar a storyline do filme em um único parágrafo, mas, com toda a sinceridade, sinto como se não houvesse nada a se dizer sobre um filme que tem mais medo de atravessar uma rua do que sua própria protagonista. Ele é fofo. Ponto. Fofo e frágil. Se a intenção de Ben Lewin era jogar seguramente, sem arriscar nenhuma de suas apostas durante toda a realização deste filme, procurando acertar num ponto onde seu filme poderia tornar-se uma obra segura e limitada que está livre da possibilidade de ofender qualquer ser humano no planeta e, assim, vender o que conseguir dentro do circuito indie, então o cara acertou na mosca.

Desde o primeiro momento em que que Wendy põe os pés para fora de casa, dando início a sua jornada, nós entendemos que tudo terminará absolutamente bem. E isto é imensamente frustrante ao mesmo tempo que extremamente reconfortante. Reconfortante porque a mise-en-scene estabelecida pelo master shot fácil e suave, que segue por todo o filme durante seus diálogos, remete-me ao desejo infantil e a tranquilidade de assistir um episódio de Os Simpsons no intúito de cair no sono. Não há tensão alguma no ar. Na teoria, pode-se dizer que Wendy está passando por uma situação perigosa ao ser assaltada por um casal de aproveitadores, e, que o desespero que Fanning emana ao quase perder seu diário é de partir o coração, mas o tom regido pela trilha musical amena funciona quase como um abraço de uma mãe que nos convence a acreditar que tudo ficará bem. E realmente fica.

É, também, imensamente frustrante perceber como em certos momentos Lewin parece mais é estar morrendo de preguiça (ou medo) de tomar qualquer decisão que já não tenha tomado na decupagem após os 25 minutos iniciais. Não há vale ou clímax, o filme é uma eterna planície. Não é como se o diretor tivesse apenas acomodado-se no reclinar de sua cadeira no set e na sala de montagem, mas, este chega ao ponto de ser de um descaso esquisito e explícito em diversos momentos onde Fanning expõe-se à uma fragilidade e sensibilidade honrável para com sua personagem. Exposição que é anulada completamente por uma câmera constrangida por uma preguiça senil.

Wendy chega a dormir em um banco de ponto de ônibus com todos os seus pertences vitais em mãos, incluindo seu precioso roteiro, esperando o horário de saída do ônibus que pegaria clandestinamente para chegar à Los Angeles. Sua noite passa com a tranquilidade de um interlúdio de um musical da Xuxa. Nada acontece, nada se sente, apenas o raiar do sol.

“Tudo que quero” é fofo. Fofo como o bocejar de uma criança sonolenta e um filhote de maltês assustado.

2 Nota do Crítico 5 1

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