Trolls
Preservando a capilar e incondicional alegria purpurinada
Por Fabricio Duque
“Trolls”, de Mike Mitchell e Walt Dohrn, a nova animação da DreamWorks, é muito mais que um simples exemplar de auto-ajuda sobre a permanência e constantemente vigiada (de meia em meia hora) da felicidade otimista em forma da essência da fé incondicional. Sim. A trama é conduzida por uma ambiência de visual atmosférico multi-colorido, pululando arco-íris psicotrópico-sensorial dos efeitos de uma droga êxtase em “barulhentas” e apoteóticas festas “raves” de uma época disco music com a versão contemporânea de um musical “Glee” mesclado com “Hair”, cujas músicas-versões de sucessos (“Adventure of a Lifetime”, do Coldplay; “True Colors”, de Cyndi Lauper; “Hello”, de Lionel Richie; “The Sound of Silence”, de Simon & Garfunkel; “September”, do Earth Wind and Fire; entre outras) tendem ao pop dos astros adolescentes atuais, sendo interpretados por novos nomes como Ariana Grande e os atores dubladores: o ex-N’Sync Justin Timberlake, Zooey Deschanel e Anna Kendrick.
“Trolls” é a luta contra o mal e a depressão (que afeta com negatividade e que mina a energia dos outros, os deixando monocromáticos e “cinzas”). Para que isto não aconteça, artifícios protetores como chuva de purpurina, colagens das histórias contadas, danças e músicas. Muitas músicas. É inevitável não remetermos imediatamente a “Divertida Mente”, e talvez por isso, ainda que pela explícita semelhança temática de aceitar a diferença e os silêncios introspectivos de não se estar sempre alegre, e unido com a veia mais fofa (o “peido glitter” – quase igual a personagem Tigresa do desenho animado “Titio Avó” do Cartoon Network) do universo ogro de “Shrek”, nós, público, “céticos desanimados de nossa realidade” recebamos “Trolls” como um resgate (da pureza acordada) de nossa inocência perdida, mesmo com o aprendizado do sarcasmo; da solidariedade comunitária à moda mais colorida de “Smurfs” e de nunca “deixar um Troll para trás”; de criar referências explícitas a “Cinderela” pela sapatinho-patins e pela transformação da beleza; pelo rei mirim de “Game of Thrones”; tudo faz com que esta animação seja um filme de momentos divertidos, sagazes e de tentar recuperar uma inocência sem o questionamento do “Se”.
Uma curiosidade: após a sessão de cinema, as crianças e os respectivos pais dançavam como “se não houvesse amanhã”. E assim, a aura fantasiosa “diva Beyoncé” de “Trolls” foi instaurada complementada, gerando “high five”, “hora do abraço”. É a jornada terapêutica de aventura e redescoberta de Ramo (Justin Timberlake) ao lado de Poppy (Anna Kendrick), líder dos Trolls. Os dois implicantes e intolerantes no início, despertam respeito e novas visões um para com o outro. É praticamente um “Senhor dos Anéis” contra os Berguens (que acreditam na massificação imposta de que só serão felizes se comer literalmente “a felicidade” dos Trolls – gerando a metáfora filosófica da alimentação energética do outro). “Trolls” corrobora a maestria na versão dublada, que surpreende e investe em traduzir as canções internacionais, reverberando qualidade, criatividade e convencimento. “Encontre seu lugar feliz”, cantarole, mas não quebre o “violão do outro”.
Em 2020, “Trolls” ganhou a continuação “Trolls 2 World Tour” (crítica AQUI).