Curta Paranagua 2024

Crítica: Tomb Raider: A Origem

Escapismo enfadonho

Por Bruno Mendes


A estrela Angelina Jolie protagonizou os dois primeiros filmes da franquia Tomb Raider, mas no recente longa “Tomb Raider: A Origem” (dirigido por Roar Uthaugh, de “A Onda”, “Presos no Gelo”) quem interpreta a heroína dos games Lara Croft é a premiada Alicia Vikander, vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante em 2016 por A Garota Dinamarquesa. Pequenina, de aparência jovial e delicada, a atriz sueca oferece carisma e sustenta bem a sua criação, contudo, os problemas da obra são maiores que qualquer mérito interpretativo.

Há produções da linha ‘entretenimento despretensioso’ que funcionam tanto, que vão além do escapismo proposto e até mesmo viram “cults”. O exemplo claro que imaginei – e informo aqui em razão das semelhanças temáticas com esta adaptação do game – é a série de filmes Indiana Jones.

Indo por caminhos mais ambiciosas, obras de “super-heróis” recentes, para citar alguns: Os Batmans dirigidos por Christopher Nolan, os exemplares da franquia X-Men( e principalmente Logan, apontado com justiça como um dos melhores filmes de 2017) e o badalado Pantera Negra, conquistaram inúmeros fãs, sobretudo, por serem divertidíssimos e ao mesmo tempo problematizarem questões em foco na sociedade.

Sem tais intenções “adultas”, Tomb Raider: A origem é medíocre como um enlatado de férias, de verão, “sessão da tarde” ou como preferir, por não saber tirar proveito cômico dos próprios absurdos – aquelas sequências deliciosamente mentirosas que tanto amamos em obras do tipo – e de maneira geral, ser pouco criativo, desafiador e carismático como as já citadas aventuras protagonizadas por Harrison Ford ou mesmo produções de menos sucesso.

Na trama, Lara Croft é uma amante de artes maciais e faz entregas de bicicleta por Londres. Quando decide viajar com o propósito de investigar o desaparecimento do pai, um excêntrico arqueólogo, e desvendar os mistérios por trás de um túmulo lendário na costa japonesa, a jovem passa por uma série de, digamos, situações-limites: tempestades no mar, confronto com vilões fortemente armados e coisas sinistras a mais.

Não podemos negar que as cenas de ação são bem dirigidas – nos confrontos físicos de Croft com rivais o suor e fúria são evidentes – e nas sequências em que a protagonista precisa escapar viva de intempéries naturais, os efeitos dão o tom de aventura correto, com boas dosagens de adrenalina. Em contrapartida, a sensação do espectador de estar vivenciando “perigos” e os respiros intensos consequentes da tensão, surgem soltos em razão da trama desinteressante.

Ainda que existam motivos críveis para certo tom dramático na narrativa, pois a filha deseja obter notícias sobre o pai desaparecido e este foi uma figura sentimentalmente relevante para ela na infância, o melodrama evocado surge deslocado do imbróglio aventuresco pretensamente divertido e, portanto, torna-se enfadonho, morno e quase nada importante.

Consequentemente, fica difícil se envolver emocionalmente com as questões mais tristes, ratificadas de forma torta no longa, cujo roteiro pouco inspirado – ou que parece ter buscado uma luz em livros de autoajuda fajutos – está cheio de diálogos sobre superação e a necessidade de “não desistir”.

Tomb Raider também é prejudicado por um vilão insosso e caricato, mesmo para obra deste perfil. Sem motivação bem definida, o Mathias Vogel não entrega uma migalha de ironia, senso de humor (cairia muito bem em uma figura ‘do mal’ nesse gênero) ou aquele tom de maldade, que faz acender no público, o ímpeto de torcer com contundência para que o coisa ruim, no mínimo, se dê mal. O tal Vogel não desperta nada disso. Pode acreditar!

E mesmo que a magia cinematográfica produza bons embates, como fora informado em parágrafos acima, falta certo “tato” e mais vibração nas lutas corporais em que o Vogel e alguns outros antagonistas aparecem. É até curioso que a iluminação e elementos cenográficos de certos “fights” remetam à “Mortal Kombat” (o típico filme ruim e divertido), mas nesta obra de produção infinitamente mais rica à do capenga exemplar de 1995, o resultado é inferior. Novamente: pode acreditar!

Sem acertar como filme de gênero puro e simples, por não apresentar nada de novo e por não equilibrar com a mínima coesão os tons dramáticos e de ação, Tomb Raider: a Origem até que tem uma mocinha tão simpática quanto porradeira. É uma pena que por tantos tropeços torne-se um produto cultural vazio, esquecível e tão distante de excelentes aventuras de heróis que o cinema já produziu.

2 Nota do Crítico 5 1

Pix Vertentes do Cinema

Deixe uma resposta