Terra Selvagem

As Tentativas Frias de Um Filme Sem Lei

Por Fabricio Duque


“Terra Selvagem”, do diretor estreante Taylor Sheridan (ator em “Sons of Anarchy”, “NCIS: Los Angeles”, “Veronica Mars”, roteirista de “À Qualquer Custo” e “Sicário: Terra de Ninguém” e que finaliza seu segundo longa-metragem “Yellowstone” com Kevin Costner), exibido na mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes 2017, e estrelado por Jeremy Renner, é visivelmente um filme iniciante, devido a seu roteiro frágil, desengonçado de ações ingênuas, gatilhos comuns óbvios e música sentimental que manipula a emoção, busca a cumplicidade de quem assiste para aceitar os inocentes pormenores interligados, e incomoda por querer “aparecer”mais que o filme.

Inspirado em eventos atuais, a trama acontece no Texas, em uma terra sem lei, e conduz o espectador ao suspense dos perigos iminentes reverberados pelos próprios indivíduos sociais. Inicia-se com a narração de uma menina solitária que foge correndo na neve. E um assassino de animais à solta. E a proteção das orelhas. Corta para uma cena com sangue na cama. Quem é a vítima? Sim, há uma forte influência de “À Qualquer Custo”, de David Mackenzie. Não podemos negar.

Entre ensinamentos ao filho da arte da fazenda; a reserva indígena; os passeios solitários e urgentes; o som de violinos para preencher o silêncio; o ruído do perigo policial; a investigação à moda (longe) de “Fargo”, dos Irmãos Coen; o FBI olhado com desconfiança (mais técnicos, menos perspicazes e “sem roupa de frio”), tudo é muito explicado e palatável, e nos faz acreditar que é o que assistimos configura-se como um novelão thriller-crime CSI. Às vezes nós somos surpreendidos com uma ambiência sonora à moda do folk rock de Lou Reed, por exemplo, e ou a estética minimalista da camuflagem branca na neve.

Cory (Jeremy Renner – ator que foi substituído após Chris Pine ter desistido), caçador de coiotes e predadores traumatizado pela morte da filha adolescente, encontra o corpo congelado de uma menina em meio ao nada e decide iniciar uma investigação sobre o crime. Ao lado dele está uma agente novata do FBI (Elizabeth Olsen – atriz que sofreu de cegueira temporária causada pela neve durante as gravações) que desconhece a região.

A quebra da conduta robótica e politicamente correta vem do núcleo sagaz interpretado por Jeremy Renner, um morador local “caçador de predadores”, que enxerga além da dica comum. O público é obrigado a seguir por um caminho de clichês ambulantes, como a mulher dinâmica, apaixonada e passional que é oprimida pelo mundo dos homens. O roteiro vai por um caminho: o jeito local. Há o choro. Perde o tom narrativo. Volta. Descamba de novo. Fica forçado. Retorna. Perde-se de novo. Retorna. Emocionado demais. Muda o foco. Memórias Roubadas? Hip hop? Sim, nós temos que ter paciência. É um filme de tentativas e erros com suas expressões forçadas, ângulos inocentes, personagens factoides e estrutura amadora. Tudo é demais, até ao FBI. A resposta está lá fora? Arquivo X feelings?

“Terra Selvagem” não para por ai, intercalando com digressões esmiuçadas na explicação. Não há limites. Há urgência em acabar o filme. O espectador tem a única opção de aceitar o que assiste se não quiser ir embora da sessão. Vamos lá. Invade-se propriedade privada, há ritos de passagem. Prisão. “O lugar obriga”; “Não pode piscar nunca”; “dente por dente”; “só importa de onde vem”, tudo tenta em vão construir o plano destes personagens com muitos momentos de tensão, e sempre com precisas explicações dos porquês disso e daquilo. Sim, é impossível não olhar ao relógio. Falta pouco? Não, está quase acabando. Concluindo, um filme de suspense-crime. De investigações com ações de perseguição, tiros, porrada. A irretocável fotografia não consegue segurar as fragilidades do roteiro.

2 Nota do Crítico 5 1

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