Padronização e falta de originalidade
Por Vitor Velloso
A História é composta de fatos, não factoides. O Nazismo e o Holocausto é algo indiscutível, não há dúvida, nem defesa e jamais haverá perdão. Os que negam isso, são ignorantes e os que pretendem perdoar o extermínio dos judeus, são complacentes com o mesmo. Distorcer a História é uma prática recorrente de governos fascistas, ou possuem um modelo que se aproxima do mesmo, pois, o impedimento desse conhecimento é a chave para a alienação massiva do povo e seduzi-los à um genocídio mascarado.
“Sobibor”, dirigido, e atuado, por Konstantin Khabenskiy parte de uma história real, onde ocorreu uma rebelião em um campo de concentração de mesmo nome. As intenções são claras, denunciar os absurdos nazistas e dar todos os motivos, que não são poucos, aos judeus. Porém, a abordagem que Konstantin decide utilizar possui alguns problemas na estrutura, no conceito e no drama que domina a trama.
Estreando na direção, inicia seu longa com uma quebra de expectativa, nos apresenta personagens que não farão parte da narrativa, para que desta maneira nos indique não apenas a crueldade dos nazistas, mas a efemeridade da vida em um local como este. Mas decide utilizar um caminho de dinamismo imagética que é acompanhado por uma trilha sonora que busca arrancar dos espectadores sentimentos profundos, sem êxito, já que a maioria dos personagens são um pano de fundo do ato final, até Sasha (Konstantin) é uma mera engrenagem de toda a situação. A necessidade de flertar com uma contemporaneidade inexistente no material, demonstra uma vontade de ampliar o público alvo e contar a história de maneira didática, porém, tornando-a cansativa e ardilosa a partir do momento que vemos uma construção de vilania de cada alemão de maneira caricata, principalmente de Karl Frenzel (Christopher Lambert), que é arquitetado de maneira preguiçosa pelo roteiro, transformando ele em um personagem odioso, mais pelo temor que ele gera em outros nazistas, que por suas atitudes com as vítimas, pois já vimos esta crueldade inúmeras vezes, não à toa, o diretor busca uma cena específica, que parece um transe na misancene (que mantém o padrão clássico e fragmentado de maneira ordenada), a fim de justificar o estopim da rebelião.
E nada disso pode contar com a ajuda da montagem que segue um padrão formal bastante ortodoxo dos projetos acerca do holocausto, câmera na mão, cortes rápidos, sem buscar uma construção multifacetada de todos os personagens presentes no longa. Neste sentido lembra bastante “O nascimento de uma nação” (2016) de Nate Parker, que compõe o projeto em um molde próxima a este, apenas o ato final importa, os outros dois atos são apenas motivações futuras que não possuem força na encenação e originalidade em suas escolhas. Essa ideia do crescendo narrativo, é uma armadilha formalmente difícil de ser contornada, pois o turbilhão de acontecimentos são meros motores, desta maneira torna-se tediosa e repetitiva a experiência. Quando chegamos ao clímax já não há energia suficiente para acompanhar aquilo, nem vontade. Além, claro, da condução do desfecho forçar-se a dar o tom da liberdade com slowmotion e uma tentativa de manipulação direta do espectador.
Enquanto isso, toda a constante insistência em fisgar o público em questões emocionais, não fixam uma força na Drama apresentado, pois os personagens não mantém um carisma mínimo que reforce alguma empatia por cada um deles. A busca por uma abordagem nova de uma história já contada diversas vezes no cinema, força o diretor a soar indeciso do que propõe, possuindo altos e baixos com uma frequência que arrebenta o ritmo do longa. A encenação que busca uma claustrofobia, acaba sendo pouco convincente pela pobreza da direção de arte, que atenta-se à uma mediocridade inexplicável. A fotografia busca uma textura diferente e nada agradável as cenas, como condição de locação onde se passam as filmagens, porém, é bastante genérica e não impacta plasticamente e dramaticamente nenhuma cena, acreditando que um plano bonito ou outro é uma redenção justa de um trabalho pouco criativo.
“Sobibor” não é um fracasso completo, mas sua covardia formal e narrativa o manterá como mais um filme do Holocausto, sem nuances diferentes e uma ousadia que não existe. Infelizmente é uma padronização Hollywoodiana de um modelo de produção frágil levado às telas com intenções positivas, com excessos de frases de efeito e reviravoltas em um roteiro que reprisa os outros longas do gênero.