Por Fabricio Duque
O longa-metragem “A Seita”, que participa da mostra Novos Rumos do Festival do Rio 2015, (que fará sua estreia no dia 09, com reprises 10 e 11 de outubro) integra o movimento coletivo cinematográfico pernambucano pró-gay Surto & Deslumbramento, já explícito no nome, que faz uma alusão satírica a Alumbramento Filmes. “Uma abordagem particular da viadagem”, “que tem a ‘frangagem’ como espinha dorsal que conta necessariamente com as obsessões da gente mais ligadas ao homoerotismo, à cultura viada”, segundo palavras de um dos idealizadores Chico Lacerda, junto com Rodrigo Almeida, Fábio Ramalho e André Antônio (este último o responsável por assinar a direção e “dar a cara à tapa”. Este site não cansa de reiterar nosso posicionamento favorável sobre a pretensão no cinema, característica marcante e essencial da Nouvelle Vague, que é adaptada pelo novíssimo meio cinematográfico de Pernambucano. Aqui, o experimento artístico ganha ares de transgressor sem o excessivo discurso clichê da utopia. “A Seita” busca a desconstrução do próprio cinema, inserindo estéticas e narrativas não convencionais, que “procuram” uma mesclagem referencial de Derek Jarman com Pedro Almodovar, em uma ficção científica que “critica” a “decadência” (em ruínas) de um Recife “ocioso”, que gera a sonolência por causa do tédio e de não se ter nada para fazer. O roteiro “brinca” com imaginação, sonho e uma realidade projetada, principalmente pela maestria do elemento técnico sonoro de criar a atmosfera sensorial de mistério iminente e de aventura “não nostálgica”. O filme, que traduz a cidade como um “fetiche”, excêntrica, perdida e vazia entre suas ruelas e buscas pela novidade. Algo que realmente “tire” seus moradores da mesmice cotidiana de “alimento” limitado. Talvez, por isso, é que se pense tanto lá. “A Seita”, primeiro projeto deles patrocinado com verbas estatais. cria um universo único de “quebrar” importâncias da cultura, unindo Kitsch (a figura da do homem afeminado – característica comum na Grécia Antiga), amadorismo “blasé” (de saudosismo) e conteúdo em um “único calderão” autoral e altamente “seguro de si”. “Surto seria uma afirmação dos delírios e Deslumbramento, uma liberdade para assumir excessos”, “A homofobia me deixa triste mas também com vontade de não parar de fazer filmes “pintosos” que incomodem a forma com que os homofóbicos enxergam o mundo”, finaliza o diretor André Antônio. A sinopse. No ano 2040, a cidade do Recife está pós-apocalíptica, visto que foi abandonada pelos endinheirados, que migraram para colônias espaciais (algo como “Elysium”). O filho de uma dessas famílias ricas, entediado em sua nova morada, decide voltar. Em Recife, ele redecora a antiga casa onde morou e gasta seu tempo lendo, passeando e se envolvendo com vários homens. Aos poucos, porém, percebe sinais estranhos pela cidade e descobre a existência de uma seita secreta. Recomendado. Atenção: cenas fortes, de nudez explícita masculina, aos “homofóbicos de plantão”.
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Nota do Crítico
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