Uma Crítica à Superficialidade Conectada
Por Fabricio Duque
Um “Proxy Reverso” é um servidor de rede geralmente instalado para ficar na frente de um servidor Web, repassa o tráfego recebido para um conjunto de servidores, tornando-o a única interface às requisições externas. Difícil? Sim. O termo “internetesco”, complicado para os apenas usuários virtuais, integra comumente o universo dos hackers de plantão. E é exatamente esse meio conhecido e natural que os diretores Guilherme Peters (formado em Artes Plásticas) e Roberto Winter (Bacharel em Física) trouxeram ao longa-metragem de título homônimo que integra a Mostra Competitiva da VII Semana dos Realizadores 2015. A narrativa, subjetiva, dividida em onze cenas não linear em planos-sequência, que se apresenta tendo o único cenário (a internet – “inteiramente trabalhado no computador”), “fica em segundo plano”, e busca a estrutura de “mockumentary” (um falso documentário) a fim de aproximar os limites da realidade e ficção, utilizando-se de dados factuais com algumas manipulações. É um “dogma Mac” à moda “Mr. Robot”. “Queríamos fazer um filme que realmente precisasse acontecer e que não fosse uma masturbação formal”, disse um dos diretores. O filme foca em um só personagem, “uma pessoa específica” e de suas interações com os outros. As “várias janelas até chegar no Davi (uma dessas “interações” sociais”)” conduz o espectador por camadas virtuais de “consumo” de informações desenfreado, verborrágico e de multi-tarefas instantâneas, quase uma esquizofrenia-epifania catártica das redes sociais. Aqui, o protagonista assiste vídeos no youtube, conversa no skype, no messenger, no Facebook, hackeia páginas, escreve textos, joga jogos, e muito mais ao mesmo tempo. É inevitável não ficarmos “zonzos” com o limite “apressado”(que desafia e altera o tempo real e possível). A sinopse nos conta sobre Davi Reis, um jovem técnico em informática que, após perder seu emprego, acaba se envolvendo com seu amigo Luis Pires num arriscado plano. Luis, um jornalista independente narcisista e obcecado pela fama, quer usar as habilidades de hacker de Davi para vazar dados confidenciais que comprovariam uma fraude nas pesquisas de intenção de voto das eleições presidenciais de 2014. “Proxy Reverso” deseja, acima de tudo, retratar uma crítica a essa “correria” sem sentido de uma contemporaneidade que vive conectada vinte e quatro horas por dia, mas que se informa superficialmente sobre os temas, reverberando opiniões curiosas (apenas do que interessa), limitadas, definitivas e unilaterais em segundos; e também analisar o comportamento “estudado” destes recém chegados indivíduos. Nada é deixado de lado. O que existir na internet é encontrado. Vídeos pornôs (destaque ao do Talibã), de protestos e de tragédias (como o 11 de setembro); Google Maps; Catho; Dropbox; Mortal Kombat; Photoshop; Perfis falsos; pesquisas aleatórias para “despistar” etc. Há uma formação educacional na rapidez e no elemento sensacionalista (que exacerba os acontecimentos – como por exemplo nós podemos perceber na cobertura jornalística sobre os atentados de Paris). “Proxy Reverso” causa aflição, devido a quantidade de janelas abertas em uma mesma tela, gerando o caos visual, parecido com o canal de notícias BloomBerg. Concluindo, “Proxy Reverso” é definitivamente uma experiência única. Curiosa, interessante e extremamente inventiva, cuja experimentação melhor representa a Semana dos Realizadores. Recomendado.
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Nota do Crítico
5
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