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Crítica: Primeiro Ano

High School Clinical

Por Vitor Velloso


Filmes que buscam uma superação de seus personagens, com músicas subindo o volume e aquela montagem de expressões duvidosas são o cerne da pieguice cinematográfica. Quando toda essa baboseira chega em nossos cinemas, falado em francês, as coisas se agravam, o que era pra ser brega, fica vinte vezes pior nessa língua européia soberba.

Dirigido por Thomas Lilti, “Primeiro Ano” conta a história de dois alunos em Paris que estudam para ingressarem em medicina, Antoine Verdier (Vincent Lacoste) é repetente e fará pela terceira vez a prova, e Benjamin Sitbon (William Lebghil), calouro, portanto, tentará a primeira vez. Enquanto Antoine é dedicado e sempre sonhou com a profissão de médico, Benjamin chega do curso e fica jogando no computador, não tem esse tesão todo pela função. Até um momento onde os dois se juntam para estudar, na intenção de se ajudar, e iniciam uma amizade que será abalada com a alta competitividade na área.

A sinopse já é piegas o suficiente, mas piora, pois essa rivalidade que se inicia é criada no roteiro a partir de uma diferença de nota (nos simulados) e de método de estudo. A alta carga de matérias a serem revisadas é encarada de modo diferente por cada um. Porém toda essa construção se dá em uma narrativa lenta, preguiçosa e acima de tudo clichê. Nada do que vemos possui um mínimo de originalidade, nem mesmo um diálogo, cada frame, corte, luz são retirados de outros projetos com moldes de superação pessoal, com pitadas de uma amizade intensa e blá blá blá. Todos nós já vimos esse filme e acredite. Começando pela direção, Thomas usa todos os pastiches possíveis em sua forma narrativa, os enquadramentos buscam simplificar ao máximo a misancene, mas não de maneira econômica, sempre buscando uma padronização bastante comum no cinema francês contemporâneo. Planos conjuntos que buscam harmonizar o ambiente com a presença dos atores em cena, diálogos rápidos com trocadilhos fáceis para dar aquele gancho dramático veloz e seu enquadramento desajeitado que nunca flexiona seus ambientes a contarem a história com ele. O cenário é realmente apenas um pano de fundo à toda aquela história, que curiosamente se passa quase sempre nos mesmos locais, logo, a encenação é parte fundamental da atmosfera do filme.

A fotografia fica na zona de conforto o tempo inteiro, não impulsiona nada durante toda a projeção. E a montagem se permite fazer o básico com desleixo. Essa atitude canhestra com cada parte da produção, fica clara durante toda o longa, que não chega a nenhuma conclusão moral, nem formal. Sua apatia diante da imagem que está gerando é tamanha, que é possível passar o filme inteiro com a mesma expressão, se remexendo na cadeira pela lentidão e o tédio. Não à toa, um outro projeto francês (igualmente preguiçoso), mas com um roteiro ainda mais canhestro é “O Orgulho” de Yvan Attal. A estrutura dramática é basicamente a mesma, a direção é parecida (essa frieza com o material) e a fotografia exatamente igual, sempre lavada e inexpressiva.

Enquanto o roteiro mantém a mediocridade nos diálogos e na estrutura, faz um pequeno esforço em algumas cenas, a fim de construir um mínimo de complexidade ao drama dos dois personagens, o que não é auxiliado em nada pela unidimensionalidade de ambos. Com um esforço pífio a descrição conjunta de Benjamin e Antoine não passa de um parágrafo. O longa utiliza pequenos vícios na linguagem e nos intérpretes para dar esse ar de complexidade maior e usar alguns alívios cômicos, buscando uma flexibilização melhor da cadência da trama, o que não ajuda em nada, pelo contrário, trava o que já estava lento.

O longa só não recebe a menor avaliação, pois Vincent Lacoste se esforça (ainda que em vão) em criar algo minimamente palatável ao público. Além disso há uma cena decente durante toda a projeção, que expressa algo. Ambos estão espiando a aula do terceiro ano da faculdade, em um necrotério, e Antoine expressa sua paixão incondicional por aquilo, vendo beleza onde naturalmente não há. E… bom, essa é a realidade de muitos que fazem cinema, almejando postos à frente que estão ali para serem ocupados pela “próxima geração”. Mas ainda que haja muitas boas intenções, ver beleza em “Primeiro Ano” é algo difícil.

2 Nota do Crítico 5 1

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