A Modernidade Evolutiva de Darwin
Por Fabricio Duque
Sem a necessidade de preâmbulos, visto que o filme “Planeta dos Macacos – O Confronto” em questão aqui é uma continuação, a parte dois é direcionada ao estudo antropológico da ciência política, quando fornece “possibilidades” aos nossos “ancestrais” – por meio de uma mutação genética – a inteligência, o desejo de igualdade e o poder desenfreado dos “regrados” humanos “indivíduos sociais”.
O conceito de Charles Darwin – cuja tese busca abrigo na “evolução natural” e que só há sobrevivência nos mais fortes na natureza – complementa o argumento de que os elementos índole, princípio, moralidade, compaixão, devoção e amizade nascem em uma personalidade primária, sendo intrínsecos e não modificados (dependendo apenas da necessidade, “permitindo-se” que ações maléficas “acordem” e repercutem o que se é esperado ao observar o comportamento social).
Em tempos de eleições governamentais em nosso país e guerras ao redor do mundo, a figura do líder Cesar (será talvez uma alusão a Roma?), reverbera utopia e lucidez, contrastando nosso individualismo apressado de tentar a convivência alheia. O disparo passional de um “soldado” infere o despreparo e a falta de treinamento psicológico; “macaco não mata macaco”, uma conservação patriarcal da espécie; a dificuldade de se escutar o ponto de visto adverso, uma arrogância egocêntrica; e o não fugir da guerra (aceitando os próprios erros), uma coragem “heróica” (nacionalista e extremamente americanizada – por mais que fique claro que os símios vivenciam quase uma “Palestina” resignada. Relembrando, Cesar é “fruto” de um experimento de laboratório por um cientista, que na procura de uma cura para o mal de Alzheimer, cria uma droga chamada ALZ-112. O efeito desse vírus, que tem efeito curto nos humanos, é completamente diferente nos símios, causando uma neurogênese e um aumento na inteligência.
A direção do novo filme fica por conta de Matt Reeves, que criou a série “Felicity” (com Keri Russel, que também é atriz do filme) e realizou “Cloverfield” e “Deixa-me Entrar” (versão americana de “Deixa Ela Entrar”). Em “O Confronto”, Matt mescla entretenimento visual (3D) com aprofundamento filosófico, sem “cair” na previsibilidade clichê do tema, como por exemplo, o livro “Black Hole”, de Charles Burns, entregue ao chipanzé Maurice, que cria a metáfora da doença transmissível, quarentena, ao desenho “Rei Leão” (por se evitar conflitos) e ao período atual, que vivemos o Ébola, com população “exilada” e proibida de sair de suas comunidades. Assim como os portugueses modificando os costumes dos indígenas, aqui, um dos momentos mais antológicos talvez seja a da explicitação antropológica: quando a “médica” humana prescreve ‘antibióticos’, por causa de infecções, a uma espécie símia, mulher de Cesar (que abre uma exceção por causa de sua sentimentalidade).
O remédio “interfere” com os micro-organismos, matando-os e inibindo seu metabolismo e ou sua reprodução, permitindo ao sistema imunológico combatê-los com maior eficácia. Em todo caso, já havia alteração genética. Nas novas versões de “Planeta dos Macacos”, a sensibilidade interpretativa (muitas vezes pelos olhos dos símios) é de um positivismo atroz. Cria-se a sinestesia do que sentem e do que pensam. Outro tópico importante é a trilha sonora que “rasga” a tela e conjuga imagem e som sem ter sobrepujanças. A sequência, baseada no livro “La planète des singes”, de Pierre Boulle, conta-se ainda com Andy
Serkis, Gary Oldman e Jason Clarke.
Concluindo, um filme que “aprisiona” o espectador na cadeira do cinema, “organiza” sua sociedade, o “confronta” com seus preconceitos e o “desconcerta” com a percepção de que talvez sejamos mais animais que os próprios macacos.